sábado, agosto 07, 2010

O TAYLORISMO E A QUESTÃO DO TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE
Itamar Flávio da Silveira
Suelem Halim Nardo de Carvalho
Luis Fernando Pessoa Alexandre

INTRODUÇÃO
Neste capítulo procuramos fazer considerações
sobre o taylorismo e as questões relacionadas a ele
focalizando as ideias abordadas por Frederick Winslow
Taylor na obra Princípios de Administração
Científica. Entendemos também ser oportuna uma
análise da obra de Taylor salientando a revolução da
produtividade, tendo em vista a necessidade de
pesquisas para preencherem os pontos lacunares que
ainda restam sobre a importância de Taylor para o
desenvolvimento industrial no início século XX.
Pretendemos contribuir para mostrar de forma preliminar
a biografia de Taylor e suas principais contribuições
para o desenvolvimento das ideias e, com elas, da
própria indústria. Naturalmente, não deixaremos de
abordar também as críticas que sua obra recebeu; para tanto elaboramos este texto
que está dividido em duas seções, conforme segue.
A primeira seção está subdividida em dois itens: 1) Uma breve biografia de
Taylor focalizando alguns fatos e episódios que marcaram a sua vida e; 2) uma
abordagem preliminar sobre o tema do trabalho na sociedade capitalista e a
importância do maior aproveitamento do tempo de labor para uma maior oferta de
bens e serviços à sociedade.
A segunda seção, também será subdividida em duas partes: 1) Abordagem do
Taylorismo concernente ao tema do gerenciamento científico da produção e as suas
consequências positivas para a sociedade e para os trabalhadores envolvidos no

1 Extraído de: SILVA, Moacir José da e SILVEIRA, Itamar Flávio da. (organizadores).
HISTÓRIA ECONÔMICA MODERNA E CONTEMPORÂNEA. Maringá: EDUEM, 2010.
Frederick Winslow Taylor
(1856-1915)

processo produtivo e; 2) retomada das ideias e argumentos que se contrapuseram a
aplicação dos princípios de Taylor na produção.

DADOS BIOGRÁFICOS DE FREDERICK WINSLOW TAYLOR

Frederick Winslow Taylor conhecido como o Pai da organização científica do
trabalho, nasceu na Filadélfia, EUA, em 1856. Pertenceu a uma família de classe
média, o que lhe propiciou uma boa formação escolar. Aos 18 anos, por enfrentar um
sério problema na visão, ele interrompeu os seus estudos para então trabalhar numa
oficina mecânica como aprendiz em máquinas-ferramentas e na fabricação de
modelos para moldagens. Aos 22 anos Taylor ingressa numa fábrica onde passa por
diversos setores, o que resultou num alargamento da sua visão geral do
funcionamento de uma fábrica. Nesta fábrica, Taylor, em seis anos, tendo iniciado
como operário, galgou e logrou o posto de engenheiro-chefe.
Em 1880, Taylor entra para o curso de Engenharia do Stevens Institute,
formando-se em 1885. Em 1895 ingressa na “American Society of Mechanical
Engineers” (Associação Americana de Engenharia Mecânica) apresentando trabalhos
de significativa importância. Taylor, ao longo de sua vida, registrou 50 valiosas
patentes sobre invenções de máquinas, ferramentas e processos de trabalho. Foi um
homem de grande capacidade de ação, tendo como lema desde cedo oferecer
resultados ao invés de razões. Com a obra de Taylor, a produção econômica recebe
uma base nova, tentou reduzir cada arte manual, ou oficio, a movimentos elementares
que pudessem ser exatamente cronometrados, descritos e ensinados a qualquer
pessoa.

Ainda no cargo de capataz, Taylor já começara a aplicar processos científicos
no processo de produção: deve-se a ele o descobrimento e as variações que influem
no corte de metais. Ele vivia fazendo milhares de experimentos, o que lhe permitiu
uma vasta publicação de trabalhos em entidades bem conceituadas de sua época. Em
1901, Taylor para com seu trabalho remunerado e vai dedicar-se à pesquisa. Em
1903, publica um trabalho de grande relevância que ele chamava de filosofia da
direção, Administração de oficinas. Em 1906, é eleito presidente da “American Society
of Mechanical Engineers” e daí em diante não para mais com suas publicações.
Somente a partir de 1911 os trabalhos de Taylor passam a interessar à
sociedade e ao público em geral; foi quando ele publicou Princípios de
Administração Científica (1976), obra com a qual alcançou renome mundial e que,
em poucos anos, fora traduzida para diversas línguas, sendo até hoje estudada e
analisada por administradores e gestores de todo o mundo, devido à sua linguagem
vivaz e descritiva. Vale lembrar que, mesmo tendo prestado uma grande contribuição
à humanidade, com as técnicas de aumento da produtividade, Taylor foi muito mais
criticado do que propriamente elogiado.
As principais obras de Taylor foram: Notas sobre as correias, 1893 (apud,
Taylor, 1976); Um sistema de gratificação por peça, 1895 (apud, Taylor, 1976);
Administração de oficinas, 1903 (apud, Taylor, 1976); A arte de cortar metais, 1906
(apud, Taylor, 1976); e, o clássico, Princípios de administração científica, 1911 (1976).


POR QUE RETOMAR O TAYLORISMO?

O Taylorismo traz uma grande novidade para as relações de produção,
subvertendo a formulação teórica de Karl Marx de que as classes distintas teriam
interesses opostos e irreconciliáveis; se no Manifesto Comunista (1848), de Karl
Marx e Frederic Engels, o trabalhador só poderia ter atendidas as suas necessidades
com o fim da propriedade privada, para Taylor (1976) o interesse do patrão não
precisa necessariamente ser antagônico ao de seus funcionários. Com o
desencadeamento da revolução da produtividade, algo muito interessante se tornara
explícito: a humanidade não estava fadada a viver numa sociedade socialista, como a
maioria dos teóricos do período previa.
A sociedade do final do século XIX e início do XX, período em que viveu Taylor,
é uma sociedade predominantemente vista como a sociedade formada por duas
classes sociais: a dos capitalistas, que possuíam e controlavam os meios de
produção, e a dos trabalhadores, considerados por Karl Marx (1988) como a classe
alienada, explorada e dependente.

Peter Drucker (2002) chama a atenção para este período da história por se
tratar da fase em que ocorreu a chamada revolução da produtividade, ignorada pela
maioria dos historiadores:

Em sua segunda fase, iniciada por volta de 1880 e culminando com o fim da
Segunda Guerra Mundial, o conhecimento em seu novo significado passou
a ser aplicado ao trabalho, resultando na Revolução da Produtividade, que
em setenta e cinco anos converteu o proletário na classe media burguesa
com renda próxima a da classe superior. Assim, a Revolução da
Produtividade venceu a guerra de classes e o comunismo. (DRUCKER,
2002, p. 4)

Segundo Drucker, a partir da Revolução da Produtividade, todas as
manifestações do capitalismo que havia, até então, se limitado a grupos restritos da
sociedade, agora se torna um capitalismo com “C” maiúsculo, um grande sistema que
em pouco tempo permeou e transformou todos os grupos da sociedade nos quais se
espalhou. “O capitalismo e a Revolução Industrial devido a sua velocidade e ao seu
alcance criaram uma civilização Mundial” (DRUCKER, 2002, p. 7).

Embora essa industrialização significasse ganhos materiais, a velocidade e a
intensidade das mudanças eram tal que chegavam a ser traumáticas, mas nem por
isso alienante, afirma Drucker (2002). Ocorrera exatamente o oposto daquilo que
previa Marx (1988), quando dizia que a alienação provocada pelo capitalismo tornaria
inevitável a exploração do proletariado, pois seu sustento estava ficando totalmente
dependente dos meios de produção pertencentes aos capitalistas, e que esses bens
se concentrariam nas mãos de poucas pessoas, empobrecendo e deixando impotente
a classe trabalhadora dentro das relações capitalistas. Esta então se veria numa
situação tão desesperadora que lhe restaria somente libertar-se do mundo que a
sufocava, fazendo então o sistema ruir sobre o seu próprio peso.

Drucker chama Karl Marx de “o falso profeta do século XIX”, mas afirma que a
maioria dos seus contemporâneos tinha a mesma visão do capitalismo; poderiam até
discordar das previsões de Marx, mas até os pensadores conhecidos como
antimarxistas aceitavam sua análise no que dizia respeito às contradições do
capitalismo.

Praticamente todas as pessoas pensantes do final do século XIX
compartilhavam da convicção de Marx, de que a sociedade capitalista era
uma sociedade de conflito de classes inevitável - e de fato, por volta de
1910 a maioria das pessoas pensantes, pelo menos na Europa (mas
também no Japão), estava se inclinando para o socialismo. (DRUCKER,
2002, p. 13).

A ideia de exploração durante as etapas da Revolução Industrial ficou tão
enraizada nas explicações da História, que historiadores e demais pensadores da área
de Humanidades, ao invés de reconhecerem os benefícios trazidos com revolução
tecnológica e da produtividade, insistem em reproduzir que este foi o período do
acirramento da luta de classes, da tentativa de alienação e dominação do proletariado.

Motta (1986) nos dá um exemplo disso quando afirma que para compreender a
História Contemporânea é necessário ver este período como o período de conflito
entre dois mundos essencialmente diversos, o do capital e o do trabalho. Não
podemos negar que tais conflitos aconteceram, mas reduzir o processo da Revolução
Industrial e a mudança que ele trouxe para toda civilização seria demasiadamente
simplificado para a compreensão da História.

Uma vez que o mundo não se transformou na forma social prevista por Karl
Marx, o que teria ocorrido para que o homem superasse as inevitáveis contradições do
capitalismo, da alienação e da subjugação da classe operária? Entender a obra de
Taylor, e suas propostas, nos permite ver de forma mais clara e mais objetiva os sinais dos obstáculos que teriam desviado a história do seu “curso natural”. Isto para nós já constitui num bom motivo retomar o tema.


O TRABALHO NO MUNDO CAPITALISTA

Esclarecer o conceito de trabalho torna-se relevante, pois é através dele que
podemos entender o porquê do taylorismo ter sido tão criticado e não raro mal
interpretado desde seu surgimento. Para o mundo capitalista o trabalho tem um
significado prático, simples e objetivo: é o meio pelo qual o homem produz riqueza e
desenvolve a sociedade. É também uma moeda de troca; homens vendem sua força
de trabalho em troca de uma quantia ou valor, comparável ao tempo, força ou
complexidade da atividade que exercem. Se filósofos, sociólogos, antropólogos,
historiadores, e demais pensadores das ciências humanas, concebessem o trabalho
sob esse prisma, acima citado, Taylor hoje teria o merecido reconhecimento da
sociedade industrial.

Através da Revolução da Produtividade, gerada com base nas experiências de
Taylor, é que foi possível a multiplicação de bens, riqueza e a melhoria real nas
condições de vida dos trabalhadores.

Com a propagação do ideário marxista o trabalho passa adquirir novos
significados e a ter novos propósitos. O trabalho não pode ser apenas uma atividade
mecânica qualquer. Marx, no Capital, destaca que:
Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence exclusivamente ao
homem. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a
abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos
favos de suas colméias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto
da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça antes de
construí-lo em cera. (Marx, 1988, p. 142-143)

O cerne de toda critica ao Taylorismo está aí. O gerenciamento científico da
produção, ao criar ferramentas-padrão, determinar o tempo e a maneira correta para a
realização das tarefas teria tirado do homem o que o caracterizaria como tal: sua
capacidade de pensar. Para os teóricos de orientação marxista, Taylor coisificou o
trabalhador, sendo o taylorismo mais um instrumento para alienação e exploração dos
trabalhadores pelos malévolos capitalistas.

Não é a melhor maneira de trabalhar em geral que Taylor buscava, como
Friedman parece presumir, mas uma resposta ao problema específico de
como controlar melhor o trabalho alienado – isto é, a força de trabalho
comprada e vendida. (BRAVERMAN, 1981, p. 86-87).
Na concepção marxista o trabalho dentro do capitalismo não pode ser visto
como algo bom, já que esse “trabalho” produzirá algo que não pertencerá a quem o
produziu, mas sim ao capitalista; tornando ainda o trabalhador um ser incapaz, que
não tem mais poder nem sobre si mesmo.

O ser estranho, a quem o trabalho e o produto do trabalho pertencem, ao
serviço do qual está o trabalho e para fruição do qual está o produto do
trabalho é, só pode ser o próprio homem. Se o produto do trabalho não
pertence ao trabalhador, é um poder estranho perante ele, então isso só é
possível porque ele pertence a outro homem que não o trabalhador. Se a
sua atividade é para ele tormento, então deve ser fruição para um e alegria
de viver de um outro. (MARX, 1993, p. 69).

Se analisarmos o trabalho a partir do viés marxista, será realmente impossível
enxergarmos o quão importante foi a Revolução da produtividade para o
desenvolvimento da riqueza durante o século XX. Mas seria possível um trabalho não
alienante numa sociedade tão complexa como a que vivemos hoje?

A concepção marxista de trabalho soa um tanto contraditória, pois se o homem
precisa ter conhecimento de todo o processo produtivo para não tornar-se subjugado e
alienado pelo capitalismo, ele teria que ser uma espécie de artesão. Mas Marx escreve
se reportando a uma sociedade industrial sofisticada. Como pode o homem de hoje ter
o conhecimento de determinados bens produzidos?

Um trabalhador de uma montadora de carros, por exemplo: a que preço sairia
da fábrica um automóvel se ele fosse depender do conhecimento de um só homem
para realizar as tarefas por completo? Funções tão variadas e complexas de um carro
de luxo, por exemplo, jamais teriam sido desenvolvidas se cada trabalhador da fábrica
de automóveis tivesse que conhecer todas as etapas de produção. Foi graças à busca
por maior eficiência do trabalhador e sua especialização que hoje temos uma
tecnologia tão avançada, que trouxe melhoria à vida de toda a sociedade. A produção
de alimentos, automóveis em larga escala, equipamentos hospitalares, e de todos os
bens que o mundo industrializado nos proporciona, só se torna viável através de uma
forma de trabalho tão condenada pelos críticos da revolução da produtividade.


O TAYLORISMO

Taylor (1976) inicia sua obra discorrendo acerca do desperdício que assombra
a produção dos Estados Unidos. Ele afirma que desperdícios materiais são fáceis de
detectar e corrigir, mas o maior problema são as ações desastradas, mal orientadas e
ineficientes do homem, que geram um desperdício mais trabalhoso de ser detectado,
causando no fim danos mais profundos que os primeiros. Taylor (1976) observa que
os discursos políticos dos americanos falam muito da devastação de florestas,
desperdício de forças hidráulicas, esgotamentos das jazidas de carvão, etc., mas que
não há qualquer ação em favor de se promover uma maior eficiência nacional, mesmo
com pessoas já cientes de que esta necessidade urge veementemente.
Na busca pela eliminação do desperdício e da ociosidade operária e pela
redução dos custos de produção, Taylor iniciou seus estudos sobre a Ciência da
Administração, no começo do século XX. Ele desenvolveu técnicas de racionalização
do trabalho operário e, em 1903, analisou e controlou o tempo e o movimento do
homem e da máquina em cada tarefa, para aperfeiçoá-los e racionalizá-los
gradativamente.

Na sua obra maior, um dos objetivos de Taylor era mostrar como a falta de
eficiência dentro das empresas gerava um desperdício assombroso, e como este
acarretava em danos significativos, tanto para a empresa, quanto para a sociedade em
geral. Para combater tal falta de eficiência o autor diz que o remédio não é a busca de homens perfeitos para ocuparem as funções na empresa. Ele acreditava que a
solução para a ineficiência estava na administração das empresas e que esta
administração científica (regida por normas, princípios e leis claramente definidas)
geraria a competência que se deseja de um corpo de funcionários:
No passado, o homem estava em primeiro lugar; no futuro, o sistema terá a
primazia. Isso, entretanto, não significa, absolutamente, que os homens
competentes não sejam necessários. Pelo contrário, o maior objetivo de
uma grande organização é o aperfeiçoamento de seus homens de primeira
ordem; e sob direção racional, o homem atingirá o mais alto posto, de modo
mais seguro e rápido que em qualquer outra distinção. (TAYLOR, 1976, p.
27)

Taylor deixa claro que o principal objetivo da Administração deve ser assegurar
o máximo de prosperidade ao patrão e ao empregado. Ele tem a consciência da
relação tensa, e até conflituosa, que ocorre muitas vezes entre patrões e empregados,
e afirma que isso pode e deve ser mudado. Para ele, um lado só atingirá o máximo de
prosperidade se o mesmo ocorrer do outro lado.

O que o trabalhador mais deseja são salários mais altos, por outro lado, o
maior desejo do empregador é a maior produtividade a custos mais baixos. Estas duas
afirmações parecem refletir desejos antagônicos, como crê a maioria dos teóricos.
Mas, para Taylor, a realização de um dos lados, só torna-se possível através
realização do outro. A maior prosperidade de ambos será atingida quando cada
homem e cada máquina oferecerem o melhor rendimento possível, isso acontece
quando a empresa dedica-se à formação e ao aperfeiçoamento do seu pessoal, de
modo que os homens possam executar suas tarefas com um ritmo mais acelerado e
com maior eficiência os mais diversos tipos de trabalho.

Se você e seu operário se tornaram tão adestrados que juntos fazem dois
pares de sapatos por dia, enquanto seu competidor e o operário dele fazem
somente um par, é claro que, depois de ter vendido os dois pares de
sapatos, você poderá pagar ao seu operário mais do que o seu concorrente,
que produz somente um par, cabendo a você ainda lucro maior que a seu
competidor. (TAYLOR, 1976, p. 31).

Taylor viu-se envolto num grande problema ao subir para o posto de
contra-mestre, pois seus colegas de trabalho os procuravam contentes dizendo que
como ele conhecia a maneira certa de agir, sendo ele chefe, certamente, não iria
importuná-los. Mas como Taylor assumiu a postura de que se estava naquela função
era porque a fabrica exigia que ele buscasse um melhor rendimento, logo surgiram
desavenças sérias entre ele e os funcionários subordinados. Em função do
endurecimento das regras na fábrica, Taylor foi por diversas vezes ameaçado.
Como meio de se livrar das exigências do novo chefe, os funcionários
inventavam mecanismos de quebrar as máquinas ou inutilizá-las temporariamente
para acusá-lo de estar forçando as máquinas produzirem mais do que a real
capacidade que possuíam.

Taylor, através de um exemplo bem simples, nos faz refletir sobre a cobrança
dos empregadores por aumento da produtividade. Ele cita que num jogo de
basquetebol, por exemplo, os jogadores dão o máximo de si e se esforçam por todos
os meios para conseguir marcar mais pontos e garantir a tão sonhada vitória para sua
equipe. O sentimento de grupo é tanto que se numa competição os colegas
perceberem que determinado membro da equipe não se esforçou o quanto era capaz,
é considerado como um traidor, sendo tratado com desprezo pelos companheiros e
pela torcida que o assiste.

Por que, então, pergunta Taylor, um trabalhador sai para o seu dia de trabalho,
recebe para tal, e sem o menor pudor esforça-se para fazer o menos possível, produz
muito menos do que é capaz e ainda repreende quem tenta fazer com maior agilidade
e eficiência? Afirma que a vadiagem tomou conta generalizadamente das indústrias e
empresas de construção e que isso era o maior perigo para as classes trabalhadoras
de sua época. Taylor acreditava que, para reverter tal quadro, necessitaria de uma
relação íntima entre os operários e a gerencia da empresa, pois a eliminação da cera,
decisão deliberada de produzir menos do que poderia produzir, reduziria o custo de
produção, ampliaria os mercados consumidores, asseguraria salários mais altos,
menos horas de serviço com melhores condições de trabalho.

Mas a perspectiva de Taylor de que os patrões deveriam exigir mais eficiência
de seus operários foi criticada severamente pelos teóricos que analisam o trabalho na
sociedade capitalista. Herry Braverman (1981), por exemplo, um dos maiores críticos
de Taylor, afirma que o taylorismo não é uma ciência do trabalho, e sim uma ciência
do trabalho para os outros, uma tentativa de controle do trabalhador para torná-lo
alienado. Quanto a esse gerenciamento das tarefas Braverman ressalta:

O controle foi o aspecto essencial de gerencia através de sua história, mas
com Taylor ele adquiriu dimensões sem precedentes (...). Taylor elevou o
conceito de controle a um plano inteiramente novo quando asseverou como
uma necessidade absoluta para gerencia adequada à imposição ao
trabalhador da maneira rigorosa pela qual o trabalho deve ser executado
(...). A gerência insistia ele, só podia ser um empreendimento frustrado e
limitado se deixasse ao trabalhador qualquer decisão sobre o trabalho.Seu
sistema era tão somente um meio para que a gerência efetuasse o controle
do modo concreto de execução de toda atividade no trabalho, desde a mais
simples a mais complicada. Nesse sentido ele foi o pioneiro de uma
revolução muito maior na divisão do trabalho que qualquer outra havida.
(BRAVERMAN, 1981, p. 86)

Taylor vê como fonte da vadiagem a formação de ideias errôneas por parte dos
trabalhadores e falta de uma gerência ativa que mostre que tais conceitos estão
equivocados, além, evidentemente do controle do processo produtivo por parte da
gerência da fábrica.

Os trabalhadores faziam muita cera por acreditarem que se eles e as máquinas
dessem um maior rendimento ocorreria um alto índice desemprego. Então, para
proteger seus próprios interesses, agiam deliberadamente para produzir bem menos
do que poderiam. Não conseguiam ter a percepção do que, de fato, ocorre quando se
aumenta a produtividade:
Por exemplo, o caso dos sapatos, O uso da máquina para executar tarefas
que eram realizadas pelas mãos deu como resultado a confecção de
sapatos por uma fração do preço antigo de custo e venda tão razoável, que
todos os homens, mulheres e crianças das classes operárias compram um
ou dois pares de sapatos por ano e andam sempre calçados, enquanto
antigamente o operário, adquiria, talvez um par de sapatos a cada cinco
anos e permanecia a maior parte do tempo descalço, usando os sapatos
somente como objeto de luxo ou em caso de grande necessidade. A
despeito de ter aumentado enormemente a produção de cada operário, com
o uso das máquinas, o consumo de sapatos tem crescido de tal modo que,
proporcionalmente, há mais trabalhadores na indústria de calçados que
antes. (TAYLOR, 1976, p. 35).

O sistema de administração utilizado também auxiliava no fazer “cera” dos
operários porque se utilizava de métodos ineficientes nos quais os funcionários
desperdiçavam grande parte de seu esforço. Na época de Taylor estava em vigor o
sistema de pagamento por peça: os patrões procuravam ganhar o máximo na hora de
fixar o preço da tarefa e os trabalhadores procuravam ganhar ao fazer parecer que
não se podia produzir mais que um determinado número de peças por dia. Os
operários em seu conjunto planejavam os trabalhos que deviam ser executados e
estabeleciam o ritmo para a máquina, que correspondia mais ou menos a um terço da
razoável produção diária.

Quando um trabalhador ingressava na fábrica era desde cedo instruído, pelos
seus companheiros, sobre o quê e quanto fazer na função designada. Essas eram
instruções das quais os operários consideravam muito sérias já que devido ao
desemprego que enfrentavam acreditavam que quanto menos produzissem mais
postos de trabalho teriam no mercado.

O sistema de pagamento por peça era danoso para as empresas, e Taylor,
acredita ser ele o culpado em grande parte pelo acirramento dos conflitos entre
patrões e empregados e da indolência dos operários, pois os operários poderiam
entender que ao produzir em maior quantidade não ganhariam a mais por isso, porque
o preço final do produto cairia e, como consequência, eles não tirariam nenhum
proveito.

Quando Taylor ocupou o cargo de chefe de oficina, empenhou-se em modificar
o sistema de administração para tentar mostrar que patrões e empregados teriam um
só interesse, ao contrário do que os teóricos marxistas e sindicalistas procuravam
mostravam. Para Taylor, enquanto patrões e empregados visualizassem ter interesses
diferentes, era impossível que ambos os lados obtivessem os ganhos reais que
poderiam. E foi no campo administrativo que ele conseguiu obter grandes êxitos,
fazendo uma completa reorganização da empresa.

Com a utilização da Administração Científica Taylor (1976) acreditava que a
maioria dos infortúnios que acirrava a relação entre operário e empregador estaria
eliminada. Não se tratava de conceber sua teoria de gerenciamento como milagrosa,
mas ele afirmava que a prosperidade dependia de muitos fatores externos as leis da
empresa. Fatores estes que estão inteiramente fora do controle do gerenciamento
científico.

Certos indivíduos nascem preguiçosos e ineficientes e outros ambiciosos e
grosseiros, como há vicio e crime, também sempre haverá pobreza, miséria
e infelicidade. Nenhum sistema de administração, nenhum expediente sob o
controle dum homem ou grupo de homens podem assegurar prosperidade
permanente a trabalhadores ou patrões. (TAYLOR, 1976, p. 43)

Taylor sustentava que o método científico de Administração poderia em
períodos de crise, torná-la menor, mais curta e menos atroz; e, em fases de calmaria,
patrões e trabalhadores teriam mais prosperidade e felicidade, porque se sentiriam
livre de discórdias e dissensões.

A ignorância do empresário quanto ao tempo necessário para realização de
cada atividade é outro fator que ajudava o operário no propósito de deliberadamente
reduzir sua produtividade. A pergunta constante de Taylor era qual a quantidade de
trabalho razoável que um trabalhador deveria produzir em um dia e qual a melhor
forma para realizá-la. Foi então que Taylor tomou para si a tarefa de descobrir um
tempo-padrão para realização de tarefas e passar isso aos funcionários pagando a
eles um prêmio em forma de salário extraordinário se fizesse sua função como o
especificado.

Taylor consegue permissão do presidente da companhia em que trabalhava
para investir, certa quantia, num estudo minucioso estudo científico do tempo
necessário para fazer diversos trabalhos. Estes estudos trouxeram tantos ganhos para
empresa que Taylor conseguiu autorização para continuar com eles por mais vinte e
seis anos. Taylor cronometrava o tempo e analisava matematicamente todas as
variações que o produto podia apresentar, preocupando-se também com os materiais,
ferramentas e instalações para aperfeiçoar seus métodos.

Apesar de toda a dedicação de Taylor para tornar seus estudos uma ciência do
trabalho, ele é citado muitas vezes, a exemplo de Moraes Neto (1991) como o autor de
maior contribuição para exploração do trabalhador dentro das indústrias.
O conhecimento é no caso do taylorismo, apenas um suporte para que o
capital, por um lado explore as particularidades do homem enquanto
máquina, e por outro, aperfeiçoe o mecanismo de controle dos passos do
trabalhador coletivo (exemplo: utilização de computadores para
mapeamento de produtividade). (MORAES NETO, 1991, p. 41)

O taylorismo visava à racionalização da produção, a fim de possibilitar o
aumento da produtividade no trabalho, evitando o desperdício de tempo,
economizando mão-de-obra, suprimindo gestos desnecessários e comportamentos
supérfluos no interior do processo produtivo. Em sua observação criteriosa, Taylor
concretizou de forma exemplar a noção de tempo útil.
Segundo Taylor, na medida em que o processo de produção fabril se torna
cada vez mais complexo, não poderia ser deixado a cargo dos próprios trabalhadores,
sempre resistentes à mudança. Ele insiste na necessidade de separar o pensar, do
executar a produção. Segundo ele, sem um método objetivo de ação, o trabalhador
fica à deriva, desperdiçando tempo e energia, além, obviamente, da decisão
deliberada de optar pela baixa produtividade.
A preocupação maior de Taylor é a desordem na forma da realização das
tarefas na fábrica, quando deixadas inteiramente nas mãos dos operários. Nesse
sentido, a aplicação de suas técnicas visa separar o trabalho intelectual
(planejamento, concepção e direção) do trabalho manual (execução) no interior do
processo produtivo. Dentro dessa perspectiva, cada tarefa é decomposta em
movimentos elementares e ritmados, em consonância com as máquinas, possuindo
assim uma ciência que deve ser posta em prática pela direção da empresa, que agora
passa a ter tanta responsabilidade no processo produtivo, quanto o operário.
O uso do cronômetro, por exemplo, tem por finalidade eliminar o tempo morto
ou desperdiçado com movimentos desnecessários que cansava o trabalhador e não
incrementava a produção. Cada operário realiza a sua tarefa, individualmente, como
atividade distinta daquela do operário vizinho, e elimina-se o trabalho em grupo,
gerador de corporativismo, discussões e pressões, responsáveis pela queda de
produção.
Taylor argumenta que no sistema de administração, então vigente, o bom êxito
da empresa dependia quase que inteiramente da iniciativa do operário e, como já
exposto anteriormente, esta iniciativa parecia não ocorrer. Com a implantação do
sistema de gerenciamento científico, obtém-se uma uniformidade na produção.
A idéia da tarefa é, quiçá, o mais importante elemento na administração
cientifica. O trabalho de cada operário é completamente planejado pela
direção pelo menos, com um dia de antecedência e cada homem recebe, na
maioria dos casos, instruções escritas completas que minudenciam a tarefa
de que é encarregado e também os meios para realizá-la. (TAYLOR, 1976,
p. 51)
Em suma podemos destacar como principais pontos da Administração
científica: a substituição do método produtivo, até então empírico por um método
científico, onde cada instrumento e movimento do trabalhador foram previamente
estudados e definidos, de tal forma que o trabalhador, ao fim da jornada diária
conseguisse atingir maior produção e menor fadiga; a eliminação do critério individual
de produção de cada trabalhador por critérios aferidos através de experimentos. A
partir de então o trabalhador não mais escolheria o método e as ferramentas que
achassem mais adequados. Haveria uma seleção e aperfeiçoamento científico do
trabalhador, que é estudado, instruído, e treinado para realização de cada tarefa;
havendo uma cooperação da administração com os trabalhadores, juntos
desenvolvem o trabalho de acordo com as leis científicas, ao invés de deixar a
resolução de cada problema a critério individual do trabalhador.
Taylor acreditava que ao entregar ao trabalhador uma tarefa diária, na qual já
se definida o tempo para realização de cada etapa, deixaria este trabalhador mais
satisfeito, por proporcionar a ele no curso do dia apreciar seu próprio progresso. Para
obter a colaboração dos funcionários, foram estabelecidos remuneração e prêmios
extras. A produção individual, até o nível de 100% de eficiência no tempo padrão
(tempo médio que um operário leva para executar as tarefas), era remunerada
conforme o número de peças produzidas. Acima dessa porcentagem, a remuneração
por pela seria acrescida de um prêmio de produtividade ou incentivo salarial, que
aumentava à medida que a eficiência do operário era elevada, ou seja, quando o
trabalhador consegue realizar a tarefa determinada dentro do tempo-limite
especificado, ele recebe um aumento de 30 a 100% do seu salário habitual.
Além de racionalizar o trabalho do operário, Taylor tentou mudar o
comportamento dos supervisores, chefes, gerentes e diretores que ainda trabalhavam
nos velhos padrões, criando, assim, a Administração Científica, que foi rapidamente
aplicada na indústria americana, estendendo-se a todos os países e campos de
atividades.
Quando foi funcionário na Bethlehem Steel Works, estando com mais ou
menos três anos de trabalho na empresa, Taylor conseguiu realizar com apenas 140
homens o que antes de seus métodos era realizado somente por um total de 400 a
600 homens. Conseguindo também uma redução da utilização de material e das
ferramentas. Mesmo pagando gratificação pelos trabalhos realizados pelos
funcionários, Taylor conseguiu fazer com que fosse poupada a quantia de 78.000
dólares por ano na empresa. A quebra de máquinas provocada por ação deliberada ou
por descuido dos operários também chegou ao fim quando Taylor propôs que se
descontasse no salário do responsável pela máquina cada dano que a ela ocorresse.
Taylor, por ter sido um grande observador, e trabalhado em funções das mais
simples até os cargos mais altos dentro de uma empresa, conhecia o universo do
trabalho e do trabalhador. Toda sua teoria foi construída em cima da observação
dessa vivência, levando em conta a necessidade dos trabalhadores, porém
enxergando suas mazelas que resultava em danos para toda a sociedade.
Durante os três anos que ficou no cargo de contramestre Taylor conseguiu que
a produção da fábrica dobrasse, sendo, em função disto, promovido. Através dos
métodos adotados por Taylor tornou-se possível salários mais altos aos funcionários,
melhor rentabilidade ao capitalista e produtos acabados com preços mais acessíveis
aos consumidores já que houve um grande aumento de produtividade.
Com Taylor, pela primeira vez na História, o trabalho que anteriormente era
negligenciado passa a merecer uma atenção sistemática em seus mínimos detalhes.
Ele cria um método científico de organização do trabalho e sua técnica se disseminou
pelas indústrias do mundo todo. Com aplicação ampla, seus princípios ultrapassaram
as fronteiras e penetraram em todo o mundo do trabalho de forma geral, inclusive na
União Soviética e tal era a pretensão de Taylor, quando publicou Princípios de
Administração Científica (1976):
Os exemplos escolhidos são de tal ordem que, é de acreditar-se,
interessam a engenheiros e diretores de empresas industriais e
manufatureiras, como também a todos os que nelas trabalhem. Esperamos,
contudo, ter deixado claro que os mesmos princípios, com resultados iguais,
podem ser aplicados em qualquer atividade social: na direção de nossos
lares, na gerencia de nossas fazendas, na administração de nossas casas
comerciais, grades e pequenas, na administração de igrejas, de institutos
filantrópicos, de universidades e de serviços públicos. (TAYLOR, 1976, p.
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AS CRITÍCAS AO TAYLORISMO
A obra Princípios de Administração Científica (1976) de Taylor, quando foi
publicada, já era alvo de muitas críticas, tanto em relação ao sistema administrativo,
quanto aos métodos de produção propostos. Isso fica claro quando vemos na obra
dois capítulos dedicados ao tema: “Críticas ao Sistema” e “Respostas as Criticas ao
Sistema”. Podemos dizer que o taylorismo até hoje é mal interpretado e distorcido, por
uma visão equivocada de um dos acontecimentos mais marcantes para mudança de
vida do homem que foi a revolução da produtividade.
Poucas figuras na história intelectual tiveram o impacto de Taylor – e tão
poucas foram tão obstinadamente mal compreendidas ou citadas
erroneamente com tanta freqüência. Em parte, Taylor sofreu porque a
História provou que ele estava certo e os intelectuais errados. (DRUCKER,
2002, p. 15)
Peter Drucker acreditava que a reputação de Taylor sofreu porque ele ousou
aplicar o conhecimento ao estudo do trabalho, o que era um anátema para os
sindicatos de seu tempo. Estes sindicatos então trataram de promover uma gigantesca
campanha para retirar da História Americana a grandeza da obra de Taylor. O
discurso de Taylor de que não havia trabalho qualificado em operações manuais,
mas apenas trabalho, e que todo ele pode ser analisado, criando-se a melhor forma
de produzir, com tempo pré-determinado e as ferramentas adequadas, foi considerado
um discurso quase que criminoso.
Nos sindicatos de trabalhadores americanos que congregavam os
empregados da indústria bélica, por exemplo, seus membros eram uma espécie de
dos donos dos saberes, tinham o monopólio do conhecimento de cada arte. Impunham
um período de aprendizado que exigia de cinco a sete anos de seus aprendizes e não
tinham um treinamento sistemático, nem estudo do trabalho. Não era permitido a
esses aprendizes que anotassem nada do que viam e tudo que aprendessem deveria
ser mantido em sigilo. Imagine em tal contexto o que Taylor, que criara uma teoria do
gerenciamento científico da produção, teve que enfrentar ao publicar seus estudos.
Mas os sindicatos mais respeitados e poderosos na América de Taylor eram
aqueles dos arsenais e estaleiros estatais que, antes da Primeira Guerra
Mundial, centralizavam toda a produção de defesa em tempo de paz. Esses
sindicatos eram monopólios de artesanato: a participação neles era restrita
a filhos e parentes dos membros. Eles exigiam um aprendizado de cinco a
sete anos, mas não tinham treinamento sistemático, nem estudo do
trabalho. Não era permitido anotar nada; não havia nem mesmo plantas ou
outros desenho do trabalho a ser feito. Os membros tinham que jurar
segredo e não podiam discutir seu trabalho com não membros. A afirmação
de Taylor, de que o trabalho podia ser estudado, analisado e dividido em
uma série de movimentos repetitivos simples _ cada um dos quais devia ser
executado de uma maneira certa, no seu melhor tempo e com suas
ferramentas corretas _ era de fato um ataque frontal aos sindicatos.
(DRUCKER, 2002, p. 16).
Taylor foi atacado pelos dois lados: por parte dos trabalhadores através dos
seus sindicatos e por parte dos industriais, através que suas organizações. Os
trabalhadores por acreditarem que Taylor baratearia seus trabalhos e os industriais,
que chegavam a acusá-lo de socialista, chamando-o de “o criador de casos”, por
propor Taylor, que os lucros obtidos com a Gerência Científica devessem ser
repassados aos operários.
Os críticos argumentam que os princípios de super especialização do
taylorismo foram criados para robotizar o operário, fazendo-o perder a liberdade e a
iniciativa de estabelecer sua própria maneira de trabalhar e permitindo encará-lo como
a manifestação concreta do tempo ao ser transformado em mercadoria. A revolução
da produtividade de Taylor seria, para seus críticos, a forma de roubar dos
trabalhadores o pouco que liberdade que sobrevivera à Revolução Industrial. Em uma
frase seria “o sistema que paga para que os trabalhadores não pensem”. Observamos
o que diz Moraes Neto (1991), que é um acadêmico que faz moderadas críticas ao
gerenciamento científico.
O taylorismo tem um poderoso lado perverso: com a simplificação das
tarefas, em questão de dias ou de horas um novo operário não-qualificado é
capaz de dar conta da tarefa - e por que não com um salário mais baixo?
Com a apropriação do saber operário, ele cria a sujeição do trabalhador aos
ditames do planejador, já não competindo àquele discutir o mérito das
ordens por este emitidas. Organizar, agora, é controlar e vigiar até mesmo
os mínimos detalhes da execução da tarefa, determinando o que e como
fazer em um curto espaço de tempo. Segundo Taylor, a vantagem do
método é que ele “beneficia” os mais produtivos e “pune” os indolentes.
(MORAES NETO, 1991, p. 42)
Uma questão que chama atenção é a crítica dos intelectuais de ciências
humanas e de ciências sociais aplicadas em relação à cobrança pela produtividade
que os donos dos meios de produção fazem aos funcionários. Quando pagamos por
algum bem ou serviço esperamos que ele seja feito da melhor forma e com o preço
mais acessível possível. É a mais pura e antiga certeza nas relações de troca. Por que
nas relações trabalhistas isso deveria proceder de maneira diferente? O dono dos
meios de produção compra o tempo do trabalhador e tem o direito, como qualquer
consumidor, de cobrar por melhores serviços e por maior produtividade.
Taylor não tornou o homem um escravo irracional da máquina, apenas mostrou
que era possível que um mesmo funcionário, com a mesma força e o mesmo tempo,
multiplicasse sua capacidade de produção. E fez isso melhorando as condições de
trabalho dos funcionários. Estudou as melhores ferramentas, métodos menos
danosos, posturas adequadas e os tempos de descanso necessários.
O filósofo norte-americano, Marshall Berman (1986), em seu livro Tudo que é
sólido desmancha no ar, expõe a seguinte crítica sobre o trabalho no mundo
capitalista:
Na mesma instância em que a humanidade domina a natureza, o homem
parece escravizar-se a outros homens ou à sua própria infâmia. Até a pura
luz da ciência parece incapaz de brilhar senão no escuro pano de fundo da
ignorância. Todas as nossas invenções e progressos parecem dotar de vida
intelectual às forças materiais, estupidificando a vida humana ao nível da
força material. (MARSHALL, 1986, p.19)
Frederick Winslow Taylor foi responsável por uma grande mudança na História
e o resultado de seus estudos foi responsável por gerar um grande aumento no lucro
das empresas onde seu método vigorou, mas graças a esse grande aumento na
produtividade, ele também foi responsável pela melhoria das condições de vida dos
trabalhadores. Os maiores beneficiados, como consequência deste aprimoramento da
produtividade, são os consumidores, que passaram a ter acesso à compra de bens,
anteriormente, sem a menor possibilidade de preços tão acessíveis.
Os teóricos da área de Administração também criticam a Teoria de Taylor
afirmando que a mesma é incompleta, por julgá-la um método de robotização do
trabalhador. Alegam que o taylorismo vê os trabalhadores apenas como uma máquina
e não como um ser psicossocial. Mas, apesar de todas essas acusações, podemos
ver até muitas e diferentes teorias administrativas hoje adotadas em todo mundo,
porém, a base é sempre os princípios do taylorismo.
CONCLUSÃO
À guisa de conclusão, podemos afirmar que o Taylorismo consiste num
conjunto de medidas que se focalizavam em: 1) o combate do desperdício de tempo
de trabalho dentro da fábrica; 2) a eficiência produtiva através de movimentos e
ferramentas adequadas e; 3) a erradicação da vadiagem e do vandalismo dentro das
unidades fabris.
Podemos afirmar também que essas mudanças de procedimentos resultaram
numa fantástica situação em que se tornou possível o aumento da produção e da
produtividade do trabalho, possibilitando melhor remuneração aos trabalhadores,
melhor remuneração do capital e produtos com preços significativamente mais baixos
e com melhor qualidade oferecidos no mercado. Com esses resultados positivos
poderíamos concluir que Frederic Winslow Taylor se tornara um homem admirado e
aclamado pelos intelectuais devido às facilidades com que suas teses passaram do
âmbito da ciência pura para a aplicação nas fábricas propiciando grandes benefícios
para a humanidade. Mas, não foi o que efetivamente ocorreu.
A despeito de todos os resultados positivos de seus métodos, Taylor foi um dos
homens mais odiados pelos intelectuais do século XX. Mas a que se deve essa
animosidade intelectual contra ele? Talvez ao próprio alcance de suas teses.
Indiscutivelmente, ocorreram grandes ganhos à humanidade, mas essa vitória real
implicou na derrubada da grande tese da literatura marxista. O Taylorismo solapou as
bases da luta de classes: patrões e empregados não estavam, de acordo com os
novos métodos de gerenciamento da produção, em uma luta que inevitavelmente
resultaria na eliminação dos primeiros: donos da força de trabalho e donos dos meios
de produção espantosamente tinham interesses convergentes.
Taylor era um homem muito simples e, provavelmente, não tenha tido tempo
para estudar os longos textos de Karl Marx sobre mais-valia e luta de classes. Despido
de um referencial teórico que só via saída para os conflitos sociais na revolução
socialista, procurou fazer as coisas da forma em que as percebiam no seu dia-a-dia no
chão de fábrica. Atuou tenazmente para reduzir os obstáculos que impediam um
aumento da produtividade do trabalhador e, consequentemente, da produção como
um todo.
Ao observar que existiam nas fábricas ações deliberadas, por parte dos
operários, para produzir menos do que se poderia, Taylor procurou fazer com que os
procedimentos de trabalho fossem organizados cientificamente de forma que
impedissem a prática de cera no trabalho. Com métodos apropriados para gerenciar a
produção, os patrões poderiam controlar o trabalho dos operários dentro das fábricas.
Eram medidas simples que tiravam o controle da produção por parte dos
trabalhadores, que até então agiam de forma coorporativa para produzir muito menos
do que era possível.
Como já demonstramos ao longo do texto, as mudanças operacionalizadas por
Taylor se tratavam de coisas simples que possibilitaram um incremento significativo na
produtividade de cada trabalhador. Ao aumentar significativamente a produtividade
acabou por realizar uma revolução na produção, a Revolução da Produtividade,
lançando para a classe operária a possibilidade de ter de fato os ganhos econômicos
que eram prometidos pelo socialismo, sem que houvesse necessidade da realização
de uma revolução que romperia com o status quo da sociedade da sociedade
capitalista.
A revolução socialista prometia acabar com a mais-valia e aumentar o
rendimento do trabalhador, uma vez que todo resultado de seu trabalho estaria à
disposição de quem, em tese, era o verdadeiro dono da produção. Com o taylorismo
seria possível duplicar o valor dos salários sem os desgastes e os traumas de uma
guerra civil. Podemos dizer que aquilo que a concepção marxista apontava como
inevitável, a destruição violenta da burguesia, tornou-se evitável na medida em que
houve um esfriamento nas tensões entre burguesia e proletariado.
Marx (1993) afirmava que o desenvolvimento das forças produtivas conduziria
ao acirramento da luta de classes, na medida em que os ricos ficavam cada vez mais
ricos e em número cada vez menor, enquanto que os pobres se tornariam cada vez
mais pobres e em número cada vez maior. Portanto, quanto mais aprofundassem as
relações capitalistas mais se tornaria iminente a eclosão da revolução socialista. No
entanto, os países que mais se desenvolveram, e que aprimoraram seus métodos de
produção, não viveram clima de erupção social. Inglaterra e Estados Unidos, por
exemplo, nunca estiveram em vias de cumprir as profecias de Marx.
Obviamente, o desenvolvimento das forças produtivas com a aplicação dos
princípios de gerenciamento científico, elaborados por Taylor, conduziu as economias
dos países desenvolvidos a outras situações: a classe operária tornou-se mais
abastada com a duplicação do valor dos salários e com a melhora das condições de
trabalho. O aumento da produtividade proporcionou também maior rentabilidade para
os patrões e redução do preço final dos produtos aos consumidores. Em suma, o
Taylorismo em certa medida desarmou uma espécie de bomba revolucionária a ser
acionada pela luta de classes preconizada pelo marxismo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar. São Paulo: Companhia das
Letras, 1986.
BRAVERMAN, Harry. Trabalho e capital monopolista. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1981.
CHIAVENATO. Introdução à Teoria Geral da Administração. São Paulo: McGraw-Hill
do Brasil, 1983.
DRUCKER, Peter. Sociedade pós-capitalista. São Paulo: Pioneira, 2002.
HICKS, John. Uma teoria de Histórica Econômica. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.
LANDES, David L. Prometeu desacorrentado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.
MARX, Karl. O capital: crítica de economia política. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural,
1988 (Os economistas).
_________. Manuscritos econômico-filosóficos de 1844. Lisboa: Avante, 1993.
MARX, K. & ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: IEA, 1987.
MORAES NETO, Benedito Rodrigues de. Marx, Taylor e Ford: As forças produtivas
em discussão. São Paulo: Brasiliense, 1991.
MOTA, Carlos Guilherme. História Moderna e Contemporânea. São Paulo: Moderna,
1986.
TAYLOR, Frederick Winslow. Princípios de Administração Científica. 7º edição. São
Paulo: Atlas, 1976.
FONTES E REFERENCIAIS PARA ESTUDOS TEMÁTICOS
Escreva um texto explicando porque para Taylor a relação entre empresários e
trabalhadores não é contraditória.
Escreva um texto explicando os motivos pelos quais as teorias de Taylor
propondo seu novo método de produção foram adotadas em grande parte dos países.