Itamar Flávio da Silveira*
“A democracia no Brasil não morreu em 1964 porque a direita deu um golpe. Morreu porque não havia quem a defendesse, de lado nenhum.” (Reinaldo Azevedo).
Todas as vezes que lemos algum texto que aborda nossa história recente, sempre deparamos com a crítica tenaz que se faz da ruptura institucional de 1964, comumente conhecida como Golpe Militar de 1964. Historiadores, sociólogos, entre outros teóricos, atribuem todas nossas mazelas sociais, políticas e econômicas a este evento que teria desviado o Brasil do caminho do desenvolvimento. No entanto, poucos são aqueles que param para refletir se a ação dos militares, do dia 31 de março de 1964, fora um golpe contra a democracia brasileira e seus valores ou se constituiu num contra golpe dado pelos militares naqueles que, em nome da democracia das instituições pretendiam criar as condições para implantar o regime socialista no Brasil.
Durante o curso de graduação em História fui aprendendo uma série de coisas sobre a História do Brasil e me convenci que o Golpe de 1964 fora um ato perpetrado e executado pelos militares com o intuito de destruir a organização sindical dos trabalhadores, destruir as organizações estudantis e imbecilizar a população brasileira, criando as condições políticas adequadas para entregar a pátria brasileira ao imperialismo à custa da miséria e do sofrimento do povo brasileiro. E por alguns anos mantive essas informações como norteadora daquilo que estudava e daquilo que ensinava para colegas e alunos que tive no ensino fundamental e médio. No entanto, um dia comecei a rever meus conceitos e fazer o meu acerto de contas com a história.
Na retomada das leituras sobre o golpe de 1964, e na reflexão sobre o significado daquilo que representava as forças que pegaram em armas para derrubar o regime autoritário, algumas coisas começaram a desencaixar daquele argumento tão harmônico e convincente que estávamos acostumados a ver nos livros de História.
Podemos dizer que os textos que abordam o Golpe militar de 31 de março de 1964 são sempre marcados por atores direta ou indiretamente envolvidos no processo. São sempre obras de militância política partidária de pessoas que viveram o conflito e que, em função das escolhas que fizeram, sofreram as consequencias da implantação do regime militar. Muitos daqueles que participaram da luta armada são tomados como fontes neutras de informação, quando o assunto é a História da ditadura no Brasil.
Nosso propósito, neste artigo, não é desmerecer o que foi produzido pelos autores esquerdistas, queremos apenas dizer que os mesmos apenas expressam a opinião de segmentos políticos que apostaram na implantação de um regime totalitário no Brasil e que, naquele momento, foram os perdedores.
UM PERÍODO POLTICA E IDEOLOGICAMENTE EFERVESCENTE
Não podemos esquecer que no momento em que ocorre o Golpe o Brasil estava vivendo um momento muito perigoso, que, indicava um futuro político turbulento. Ao retomarmos os acontecimentos daqueles dias, observarmos que o Brasil estava numa encruzilhada entre o autoritarismo de direita e totalitarismo de esquerda. Enquanto o primeiro estabeleceria uma ditadura política o segundo, como prova a história de dezenas de países, pretendia transformar o Brasil em uma grade Cuba.
Em 1949, na China, triunfara a revolução comunista liderada por Mao Tse-Tung dando início a uma obscurantista e sangrenta sociedade comunista; em 1959 ocorre a Revolução cubana que, liderada pelos irmãos Castro e Che Guevara, derruba o governo de Fulgencio Batista e instala um regime socialista que fuzila milhares de pessoas e condena a pequena ilha caribenha ao atraso, onde permanece até hoje como um grande museu de carros, construções e ideias. Os comunistas estavam se multiplicando no mundo todo e, inclusive, no Brasil.
O ambiente internacional aumentava a expectativa de que o mundo caminhava necessariamente para o socialismo, internamente muitos formadores de opinião _ jornalistas, políticos e intelectuais _ trabalhavam favoravelmente pela causa da revolução socialista. A situação estava se acirrando e o governo de João Goulart, ao invés de tomar medidas que mantivessem a ordem, trabalhava para jogar mais lenha na fogueira da subversão. Seu mandato durou apenas de setembro de 1961 a 31 de março de 1964. A queda não se explica por uma suposta sede de poder por parte das Forças Armadas, como muitos querem atribuir. Mas se deve a suas próprias escolhas.
Seu flerte com o comunismo já era conhecido. No momento em que ocorre a renúncia de Jânio Quadros João Goulart estava em visita a China comunista por quem não escondia sua simpatia, fato que desagradava a sociedade brasileira que, em sua maioria, era avessa ao comunismo.
Nas Forças Armadas, por motivações ideológicas de esquerda, ocorriam insubordinações quebrando a disciplina e hierarquia, sem que houvesse disposição, do Presidente da República, de aplicar punições exemplares. Crise econômica, descontrole das contas públicas e inflação em alta, contribuíam favoravelmente para a possibilidade do agravamento da situação política.
Em Brasília ocorre a rebelião de sargentos, que reivindicavam o direito de se candidatar a cargos eletivos. No Rio de Janeiro em um grande comício no dia 13 de março com mais de mais de duzentos mil pessoas, o presidente assinou decretos de grande impacto popular, como a nacionalização das refinarias de petróleo privadas e a desapropriação de terras, para a reforma agrária, situadas às margens de ferrovias e rodovias federais. Seis dias depois do comício do Rio foi realizada em São Paulo a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Os manifestantes conclamavam aos militares que salvassem o Brasil do perigo comunista, presente na figura do Presidente Goulart.
A gota que transbordou o copo ocorreu no dia 30 de março quando João Goulart deliberadamente manifestou seu apoio aos marinheiros no Rio de Janeiro. Chegara a hora de conter as ações do Presidente da República. O Alto Comando das Forças Armadas entendeu que a conivência com os atos de insubordinação chegara ao seu limite. Os militares agiam atendendo as reivindicações feitas pelas forças democráticas da sociedade. “A revolução de 1964 não foi o produto de uma campanha ou de uma ideologia política determinada. Foi a reação do povo brasileiro e de suas Forças Armadas contra a tentativa perpetrada por um conjunto comuno-anarquista que visava a levar o país ao caos e atrelá-lo ao grupo de países comandados pelo marxismo”, como afirmou Eugenio Gudin em artigo publicado na impressa em 07 de abril de 1975.
*Professor de História Econômica da Universidade Estadual de Maringá.
quinta-feira, outubro 27, 2011
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