domingo, maio 20, 2012

A HISTÓRIA DA INGLATERRA E SUAS LIÇÕES AO MUNDO PÓS-MODERNO

Talles Henrique Pichinelli Maffei* (Breve resenha sobre o livro “Império: como os Britânicos fizeram o mundo moderno”, de Niall Ferguson).** O livro “Império: como os britânicos fizeram o mundo moderno” de Niall Ferguson trata do papel da Inglaterra na construção do mundo moderno, descrevendo a empreitada inglesa de disseminação de seu sistema de valores, incluindo aí o âmbito econômico, cultural,religioso e jurídico. A discussão envolve o processo colonizador inglês que, apesar de tardio, foi o mais bem-sucedido da história. Uma das primeiras lições que podem ser extraídas da história descrita no livro é: de que maneira uma pequena ilha de terras montanhosas, desprovidas de grandes recursos naturais e detentora de uma pequena população pode constituir um dos maiores impérios já vistos pelo homem e poderosa o suficiente para influenciar o grande curso da história até os dias de hoje? O Império Inglês, em seu apogeu, chegou a governar cerca de um quarto das terras do planeta e aproximadamente a mesma proporção de habitantes. O Império Inglês detinha colônias em todos os continentes do globo, possuía uma marinha mercante incomparavelmente maior que a de seus potenciais concorrentes e consequentemente um volume de trocas gigantesco. Foi ela a detentora da economia mais robusta do planeta por um longo período de tempo, sendo o seu brilho e apogeu representado no século XIX, no que ficou conhecido como período Vitoriano, em referência á Rainha Vitória. Examinando a história da Inglaterra com base na obra de Niall Ferguson, podemos inferir os principais pontos que levaram a Inglaterra a se transformar em um grande império, com um papel primordial na construção do mundo moderno. São eles: Império da Lei: Os ingleses foram altamente zelosos na Idade Moderna com a aplicação efetiva da lei, o que resultou em uma eficiente proteção á propriedade privada, o que garantiu bases sólidas para a convivência social segura. Tal fator favoreceu e incentivou a poupança e os investimentos, já que havia a proporção de segurança por parte do Estado e a remota chance de expropriação. Além do mais, a aplicação eficiente da lei garantiu a preservação da meritocracia individual e a boa fluência da sociedade. Burocracia Enxuta: A burocracia foi um grande motivo de preocupação por parte dos ingleses na Era Moderna. A ideia principal era impedir o quanto possível a expansão da burocracia, visando a saúde das finanças estatais. A Inglaterra fora um grande espelho de como governar muitos com tão pouco. A administração inglesa na Índia foi um grande exemplo disto, onde poucos milhares ingleses governaram centenas de milhões de indianos. O Serviço Civil Indiano era composto por burocratas altamente qualificados, um símbolo da eficiência do governo inglês em terras indianas. Tal fator resultou na atração de investimentos e proteção á liberdade individual e á meritocracia, valores sempre emperrados por um corpo burocrático avantajado, dado que o volume de corrupção é diretamente proporcional ao tamanho da burocracia. Além disso, tal fator evitava o aumento de impostos, já que o funcionalismo público diminuto não onerava a folha de pagamentos da Coroa Inglesa e tornava o imperialismo inglês rentável. Não Intervenção: Os governos ingleses na Idade Moderna adotaram a filosofia do laissez-faire, baseando-se no princípio de não intervenção nos mecanismos do mercado. Teóricos como Adam Smith, David Ricardo e John Stuart Mill tiveram suas vozes ouvidas por seus conterrâneos britânicos. A atividade econômica pode assim se desenvolver plenamente na Inglaterra, com poucos empecilhos a serem enfrentados. As estradas de ferro inglesas se alastraram pela Europa, Ásia e África. Cabos destinados ás linhas de telégrafo foram instalados pelos ingleses, conectando todos os continentes e facilitando de forma revolucionária a comunicação. Os investimentos fluíam em larga escala por todo o Império Inglês, local onde encontravam a maior liberdade para o seu pleno desenvolvimento. As trocas comerciais dentro do circuito comercial imperial fluíam aceleradamente, além disso, a divisão do trabalho foi sendo cada vez mais ampliada. A atividade econômica intra-império envolvia a produção de cana de açúcar e tabaco nas colônias inglesas da América, o algodão produzido no Norte da África (principalmente na colônia inglesa do Egito) e a lã era produzida em larga escala na colônia inglesa da Austrália. Por outro lado, a Inglaterra exportava produtos manufaturados para todas as suas colônias nos quatro cantos do globo, o que ia de mercadorias têxteis até navios e locomotivas a vapor. Os produtos ingleses eram produzidos e comercializados em uma escala verdadeiramente global, aproveitando potencialmente as particularidades de cada região. O pleno desenvolvimento e aceleração das trocas influenciaram de forma preponderante no aumento da riqueza e na produtividade no Império Inglês. Zelo pela Liberdade: A tradição liberal na Grã-Bretanha, de filósofos como Adam Smith e David Hume, exerceu na Idade Moderna um influente papel na política imperial britânica. Apesar de os ingleses serem aqueles que mais tiveram lucro com o tráfico negreiro e ainda se oporem em geral a independência de suas colônias, eles paradoxalmente formam os grandes guardiães da liberdade individual na Era Moderna. O imperialismo inglês foi muito brando se comparado aos seus pares europeus no quesito liberdade individual dos habitantes de suas colônias. O grande exemplo pode ser dado pela Índia, onde predominou por um longo tempo a política de não intervenção na cultura e religião local. A concepção de liberdade inglesa foi um elemento de solidificação e simultaneamente um catalisador da desintegração do império britânico. Os fardos da dominação eram relativamente leves. Porém, de que maneira afinal poderiam os guardiães da liberdade recusar tal valor ás suas próprias colônias e cidadãos? Demonstrado tais fatores, eis sinteticamente a “fórmula da riqueza” dos ingleses, transformando a pequena ilha no Norte europeu em um dos maiores impérios já vistos pelo homem. A conjuntura construída na Inglaterra garantiu uma das maiores acumulações de riqueza da história, pois garantia segurança e liberdade para a atividade econômica progredir. A Revolução Industrial é um símbolo disto, tal evento não ocorreu na Inglaterra pela sorte do destino, mas sim pelas características peculiares da Inglaterra, regularmente incentivando e garantido proteção ao capital. A peculiaridade econômica da Inglaterra permitiu também peculiaridades culturais. O povo inglês se tornou um povo poupador e empreendedor por excelência. Sem a cultura disseminada entre parcela da população inglesa de poupança e investimento, a revolução industrial não teria sido possível, tal é também o ponto de vista do historiador da Escola Austríaca Max Hartwell. O desconforto no presente gera em alguns homens a busca das causas no passado. No caso brasileiro isso é representado por historiadores como Caio Prado Junior e Sérgio Buarque de Hollanda, sendo a tese do primeiro a mais difundida e impactante no meio intelectual brasileiro. De forma sintetizada, Prado Jr. alega que a colônia portuguesa no Brasil não se desenvolveu de forma satisfatória pela forma como a atividade econômica fora organizada em terras tupiniquins, sendo a colônia destinada puramente á extração dos recursos naturais. Assim, de acordo com o historiador, não havia nenhuma preocupação por parte dos portugueses com o desenvolvimento econômico da colônia, mas apenas com a pura exploração dos recursos. O processo de colonização inglês vem a refutar tais justificativas. A colonização da Austrália foi iniciada principalmente por ser o local adequado para o armazenamento de indivíduos, considerados, pela sociedade inglesa, errantes e perigosos. Afinal, uma gigantesca ilha de terras estéreis povoada por indígenas hostis e situada a uma distância quase inviável da Inglaterra seria aparentemente o local ideal para uma prisão. Em pouco tempo a colônia da Austrália era sem dúvida uma das mais prósperas do império inglês. Atualmente – é o caso reforçar - a Austrália é um dos países mais ricos do mundo e apresenta ótimos índices de desenvolvimento e qualidade de vida. As colônias inglesas situadas na América do Norte, que hoje formam os EUA e o Canadá, foram em parte colônias de exploração agrícola e parte depósito de indivíduos considerados degredados em seus países de origem. Os EUA hoje são indiscutivelmente detentores da economia mais robusta do planeta, além da indiscutível elevada qualidade de vida de seus cidadãos. De tal forma, o argumento de que a inferioridade econômica brasileira pode ser explicada pelo passado colonial não se sustenta ao se analisar processos similares. A riqueza de uma nação não depende de seu passado, mas sim na escolha de ações que garantam basicamente a proteção á propriedade privada e desenvolvimento pleno das trocas. Fatores estes respeitados pela Inglaterra e que a transformaram a mesma num vasto império. O princípio da não intervenção econômica por parte do Estado garante a liberdade individual e a alocação dos recursos da forma mais eficiente possível. No atual estágio social, o conhecimento se encontra dispersado de forma extremamente vasta, o que impossibilita a sua acumulação por um grupo pequeno de pessoas. Partindo de tal princípio, a liberdade individual garante de forma mais eficiente possível a aplicação do conhecimento, do qual cada fragmento pertence a algum individuo. Tais garantias, oferecidas de certa forma pelo Estado Inglês, garantiu a construção da riqueza e a alocação eficiente dos recursos. Enfim, a história da Inglaterra pode em muito nos ensinar sobre qual o caminho a ser trilhado pelas instituições para que tenhamos um ritmo melhor de desenvolvimento. Não podemos cair na falsa ideia de atribuir ao passado os problemas do presente, além disso, a história está recheada de exemplos que nos evidenciam o contrário. *Acadêmico do curso de graduação em História da Universidade Estadual de Maringá. ** FERGUSON, Niall. Império: como os britânicos fizeram o mundo moderno. São Paulo: Editora Planeta, 2011.

sexta-feira, maio 18, 2012

O MAPA ERRADO



RODRIGO CONSTANTINO
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A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quinta-feira que o crescimento do País não pode depender exclusivamente das "forças de autorregulação do mercado" e ressaltou o momento de "mutação" atual vivido no desenvolvimento do Brasil. Ela entregou o prêmio Almirante Álvaro Alberto de contribuição científica à sua ex-professora e economista Maria da Conceição Tavares, a quem atribuiu grandes contribuições ao desenvolvimento do País. A Presidente disse que Conceição Tavares contribuiu para “o mapa do caminho”.
Maria da Conceição TavaresResta perguntar: quais contribuições foram essas? Que mapa é este? Conceição Tavares, para quem não se lembra, é aquela senhora com fala agressiva, mas que se derreteu em lágrimas de emoção, em rede nacional, quando o fracassado Plano Cruzado foi aprovado. Ela sempre defendeu o nacional-desenvolvimentismo, esta ideologia fadada ao insucesso. Não consigo me lembrar de uma só contribuição positiva desta senhora para o desenvolvimento do País. Ao contrário: foi contra, assim como o PT, todas as reformas que melhoraram nossa situação.
A fala da “Presidenta” é importante para frisar que seu governo é caracterizado por um forte ranço ideológico. Dilma realmente acredita no nacional-desenvolvimentismo, e suas últimas medidas deixam isso bastante claro. Até aqui, ela encontrou pela frente um cenário externo favorável. Com a deterioração do quadro e o esgotamento do modelo de estímulos estatais, parece que o Governo vai caminhar cada vez mais na direção intervencionista. Voltamos à época de pacotes quase semanais, de acordo com as demandas pontuais que surgem.
Os pilares que sustentaram a credibilidade macroeconômica foram sendo derrubados um a um. A meta de inflação foi afrouxada e o Banco Central se mostrou sem autonomia. O câmbio sofre forte intervenção. Até a meta de superávit fiscal parece ameaçada. A Folha diz hoje que no governo há quem defenda até aumentar os gastos públicos e reduzir o aperto fiscal para estimular o consumo e o investimento. Um país não pode ter uma equipe econômica tão medíocre por tanto tempo e sair impune disso.
A ficha dos gringos pode estar caindo. A revista The Economist desta semana tem uma matéria de destaque sobre o Brasil, com tom negativo, pregando a necessidade de novas reformas. Mas Dilma declarou que seu mapa é mesmo ideológico, e aponta para o lado errado. Ela usa um mapa da Venezuela para trafegar pelo Brasil. Não tem como chegar ao lugar certo...  
*DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL
Ref. imagem: Wikipédia