domingo, janeiro 14, 2007

AS GRAVES CONTRADIÇÕES DO FORO DE SÃO PAULO

por Alejandro Peña

Esclusa em 12 de janeiro de 2007 © 2007 MidiaSemMascara.org

Esta semana começa em San Salvador o XIII Encontro do Foro de São Paulo (FSP) [1], organização criada por Fidel Castro e Lula da Silva em 1990, para reagrupar as forças de esquerda da região, depois da queda do muro de Berlim e do descalabro do comunismo.
Por motivo deste Encontro, publicou-se um documento – redigido, entre outros, pelo Partido dos Trabalhadores (PT) do Brasil e pelo Movimento Quinta República (MVR) da Venezuela – repleto de contradições e de falsidades [2]. A mais chamativa consiste em apresentar o Foro como uma organização de oposição ao sistema, quando na realidade seus membros governam a maioria dos países latino-americanos há anos.
São integrantes do FSP: Fidel Castro, Hugo Chávez, Lula da Silva, Evo Morales, Tabaré Vázquez e Daniel Ortega; enquanto que Néstor Kirchner, Michelle Bachelet e Rafael Correa chegaram ao poder com o apoio de partidos pertencentes ao Foro. Só ficam de fora de seu controle Felipe Calderón, Álvaro Uribe, Alan García e Tony Saca, porém assediados permanentemente por López Obrador, as FARC, Ollanta Humala e a Frente Farabundo Martí (FMLN) respectivamente, todos membros do Foro de São Paulo.
Sua presumível condição “opositora” permite ao Foro criticar a “pobreza”, a “concentração da riqueza” e a “falta de saúde, educação e moradia”, porém se esquece que seus membros levam anos no poder e que nada fizeram para solucionar esses problemas; ao contrário, os têm agravado. Chávez já vai governando há oito anos – com preços do petróleo sete vezes superiores aos que havia anteriormente – e, entretanto, a pobreza e a concentração da riqueza incrementaram-se notavelmente, enquanto que os níveis de corrupção e insegurança aumentaram em índices jamais vistos. Lula tampouco fez nada para melhorar a situação do Brasil, como se pode constatar em qualquer estatística séria.
No mencionado documento o Foro de São Paulo condena “o crime organizado, o terrorismo e o narcotráfico”, porém, convenientemente omite dizer que entre seus membros fundadores encontram-se as FARC e o ELN, organizações criminosas e terroristas que se financiam com o narcotráfico e o seqüestro.
O documento defende “a independência e a soberania” das nações latino-americanas e, ao mesmo tempo, critica “a intervenção estrangeira, a subordinação e o colonialismo” porém, não diz que o castro-comunismo exporta sua revolução ao resto do continente e influi notavelmente sobre seus aliados. Caso emblemático é o de Hugo Chávez, que manipula a seu bel prazer o governo de Evo Morales e se imiscui permanentemente nos assuntos internos de outras nações.
O FSP diz promover a integração e a unidade dos povos, porém na prática fomenta a desintegração e a divisão. Chávez não apenas acabou com o Pacto Andino, como dividiu internamente a Venezuela e a Bolívia em dois lados irreconciliáveis, o qual pode desatar a violência em ambos os países. Por sua parte, Kirchner e Tabaré Vázquez, em seu afã revanchista contra os militares, revivem perigosamente conflitos superados há décadas.
O Foro reanima as “lutas populares” dos movimentos de esquerda, “expressadas através de greves, protestos, manifestações e bloqueio de estradas”, porém quando essas mesmas ações são realizadas contra ele, as reprime ferozmente. Na Venezuela, Chávez despediu 20 mil trabalhadores da indústria petroleira por exercer seu direito universal à greve, grupos oficialistas paramilitares atacam com balas os protestos opositores e se promulgaram leis contra o bloqueio de estradas ou “guarimbas”.
Todavia, o documento do XII Encontro do Foro de São Paulo diz toda a verdade quando confessa que não existem duas esquerdas diferentes, uma “moderada” (Lula, Kirchner, Vázquez, Bachelet) e outra “radical” (Castro, Chávez, Morales), mas que há uma só esquerda. Textualmente diz: “A maquinaria político-ideológica da direita... tenta dividir os governos progressistas em dois grupos: a esquerda moderna e a esquerda atrasada com a intenção de apagar os muitos objetivos comuns que unem nossos governos e partidos. Esta diferença é falsa e o que existe na verdade é uma diversidade de estratégias que respondem às realidades e condições de luta que existem em cada país”.
Tantas e tão graves contradições demonstram que o objetivo do Foro de São Paulo não é resolver os problemas que critica, senão aproveitar o fracasso dos governos anteriores e manipular os povos para alcançar o poder e usufruí-lo em benefício próprio.
Nesta oportunidade o Foro se reúne em El Salvador – um dos poucos países que o FSP não pôde controlar – para dar respaldo continental à Frente Farabundo Martí a fim de que tome o poder, quer seja pela via eleitoral quer seja pela via das armas. No momento Chávez financia generosamente a campanha do FMLN, fornecendo petróleo barato às prefeituras governadas por essa organização. Se isso não é intervenção externa, então o que é?

Tradução: Graça Salgueiro
[1] A página web do Foro de Sao Paulo é www.forosaopaulo.org