quarta-feira, janeiro 03, 2007

A GLOBALIZAÇÃO DO BEM-ESTAR HUMANO

Policy Analysis nº 447
22/08/02 - Cato Institute
Indur M. Goklany*
Sumário Executivo

As controvérsias com relação à globalização têm procurado averiguar se ela exacerba a desigualdade de renda entre ricos e pobres. Mas, como freqüentemente afirmam os adversários da globalização, o bem-estar humano não é sinônimo de riqueza. A questão central, portanto, não é se os hiatos de renda estão aumentando, mas se a globalização melhora o bem-estar e, se aumentaram as desigualdades de bem-estar, isso teria ocorrido porque os ricos melhoraram à custa dos pobres.
Medidas mais diretas de bem-estar humano do que a renda per capita incluem a erradicação e/ou a diminuição da fome, das taxas de mortalidade, do trabalho infantil, bem como a melhoria da educação, do acesso à água potável e da expectativa de vida. Esses indicadores geralmente melhoram com a riqueza, pois a riqueza ajuda a criar e prover os meios para melhorá-los. Por sua vez, essas melhorias podem estimular o crescimento econômico ao criar condições compatíveis com a mudança tecnológica e com o aumento de produtividade. Assim, a riqueza, a mudança tecnológica e o bem-estar se reforçam num círculo virtuoso de progresso.
Durante os últimos 50 anos, à medida que a riqueza e a tecnologia progrediam no mundo, melhorava também o bem-estar da grande maioria da população mundial. Hoje, a média das pessoas vive mais e é mais saudável, mais instruída, menos faminta e menos sujeita a ter filhos menores no mercado de trabalho. Além do mais, os hiatos nessas medidas críticas de bem-estar entre países ricos e os grupos de renda média ou baixa têm, em geral, encolhido enormemente desde meados de 1900, independentemente das tendências de desigualdade de renda. Entretanto, onde os hiatos encolheram recentemente o problema não foi o excesso de globalização, e sim a insuficiência da globalização.
Os ricos não estão melhor porque tiraram algo dos pobres; ao contrário, os pobres estão melhor porque se beneficiaram das tecnologias desenvolvidas pelos ricos, e a situação teria melhorado ainda mais se tivessem sido capazes de aproveitar plenamente os benefícios da globalização. Um certo nível de desigualdade global pode até beneficiar os pobres na medida em que os países ricos se desenvolvem e investem em medicamentos e tecnologias mais caras que, então, se tornam mais acessíveis aos pobres.

Introdução

A discussão sobre a globalização e seus méritos gira principalmente em torno das questões de desigualdade de renda e se nas últimas décadas ela tornou os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.[1] Por exemplo, Laura D’Andrea Tyson, ex-assessora econômica nacional na administração Clinton, e outros declararam que “desde que a globalização vem se intensificando, o hiato entre a renda per capita de países ricos e pobres vem aumentando”.[2] David Dollar e Aart Kraay, economistas do Banco Mundial, vêm desafiando essas afirmações. Segundo eles, “a melhor evidência disponível mostra que a verdade é exatamente o oposto... [e que] ... a atual onda de globalização, que começou por volta de 1980, na realidade promoveu a igualdade econômica e diminuiu a pobreza”.[3] Onde quer que esteja a verdade, esses argumentos estão fora de propósito. A questão central quanto à globalização não é a desigualdade de renda nem se ela está crescendo, e sim se a globalização melhora o bem-estar humano e, caso as desigualdades de bem-estar tenham realmente aumentado, se os ricos ficaram mais ricos à custa dos pobres.
Mas, como freqüentemente afirmam os adversários da globalização, o bem-estar humano não é sinônimo de riqueza,[4] nem – repetindo um slogan antiglobalização – se pode comer o PIB.[5] Fundir os dois é confundir fins e meios. Enquanto a riqueza ou a renda per capita (como medida pelo PIB per capita) é provavelmente o melhor indicador de bem-estar material, sua maior importância deriva do fato de que ou ajuda a prover a sociedade (e os indivíduos) dos meios para melhorar outras medidas de bem-estar humano, provavelmente mais importantes (como a erradicação da fome, a saúde, as taxas de mortalidade, trabalho infantil, nível de educação, acesso à água potável e ao saneamento, e expectativa de vida)[6] ou está associada a outros indicadores desejáveis (como a adesão ao Estado de Direito, a transparência do governo, liberdade econômica, e, de certa forma, a liberdade política).[7] Na realidade, conforme mostra o Gráfico 1, que será discutido adiante mais profundamente, a comparação de dados entre países mostra que embora esses outros indicadores geralmente melhorem na medida em que aumenta a renda per capita, a relação entre eles não é linear.[8] As melhoras são geralmente rápidas em níveis baixos de desenvolvimento econômico, mas se tornam mais lentas ou, em alguns casos, param ao alcançar seus limites práticos ou teóricos.[9] Portanto, a renda per capita por si só não seria boa medida do bem-estar humano, e qualquer conclusão sobre se a globalização foi benéfica para a humanidade em geral ou se favorece os ricos à custa dos pobres deveria se basear num exame de como essas medidas mais importantes de bem-estar humano evoluíram com o avanço da globalização.

GRÁFICO 1: Bem-estar versus riqueza em 1990

Fonte: Indur M. Goklany, Economic Growth and the State of Humanity (Bozeman, Mont.: Political Economy Research Center, 2001), usando dados do Banco Mundial, World Bank Development Indicators 1999 (Washington: World Bank, 1999).

Indicadores de bem-estar humano

Este estudo examina cinco indicadores de aspectos distintos, porém relacionados, de bem-estar. Três deles são medidas de miséria e privação e refletem bem-estar “negativo”; um é uma medida “positiva” de bem-estar, e o último é o índice de desenvolvimento humano do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, que combina renda per capita com dois dos indicadores “positivos” de bem-estar.[10]
Os indicadores negativos examinados representam: disponibilidade de oferta de alimentos per capita (níveis baixos que são equivalentes à fome e à desnutrição), mortalidade infantil e a existência de trabalho infantil. Os dois primeiros – indicativos de extremos de inanição e morte, dois dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse – vêm sendo, ao longo dos anos, sinônimos de medo e de miséria. Há menos de meio século a inanição, natural ou criada pelo homem, ainda parecia estar assolando a espécie humana. Essa condição, que já foi crônica, vitimou mais de 30 milhões de chineses somente em 1959-61”.[11] Um aumento no volume de alimentos talvez seja o primeiro passo para uma sociedade saudável. Dispor de uma quantidade adequada de alimentos também permite que um indivíduo médio se dedique a atividades que assegurem mais do que a simples alimentação e tenha uma vida mais plena e produtiva. A fome e a subnutrição, além do mais, retardam a educação e o desenvolvimento do capital humano que, por sua vez, poderiam retardar a mudança tecnológica de todo esforço humano e o crescimento em todo o setor econômico.[12] Assim, a oferta inadequada de alimentos poderia não só aumentar a miséria como também retardar o progresso registrado pelos indicadores positivos de bem-estar.
A segunda medida negativa, a mortalidade infantil, também afeta, de maneira geral, a mortalidade infantil e materna. Talvez não haja nada que tenha causado mais tristeza e pesar às mulheres ao longo dos anos do que a morte de seus filhos. Durante a maior parte da vida humana na Terra, a mortalidade infantil tem sido um dos mecanismos naturais mais cruéis para conter as populações humanas.
A terceira medida negativa é a existência do trabalho infantil. A possibilidade de dar aos filhos uma infância sem trabalho era um luxo que durante séculos somente a classe alta e os ricos podiam se permitir. Na maioria dos lares, na maioria das culturas, as crianças eram vistas como força adicional de trabalho. Elas contribuíam para a segurança econômica da família trabalhando na fazenda, no artesanato, nas tarefas domésticas e, nas fases iniciais da industrialização, nas fábricas. O aumento de produtividade devido às novas tecnologias, entretanto, tornou possível dispensar o trabalho infantil nos países desenvolvidos. Essa tendência se acelerou à medida que as famílias enriqueciam e o preço real dos alimentos caía; a contribuição econômica infantil tornou-se menos importante para a sobrevivência das famílias e sua segurança na velhice. Além disso, começou a ser reconhecido o valor econômico da educação para as crianças e, possivelmente, para o futuro econômico e a segurança social das famílias.
A medida positiva que este trabalho analisa é a expectativa de vida no nascimento, provavelmente o indicador específico mais importante do bem-estar humano. Maior expectativa de vida é geralmente acompanhada de um aumento de anos de vida de boa qualidade. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, as expectativas de vida de anos ajustadas por incapacidade nos EUA, na China e na Índia, por exemplo, foram de 70,0, 62,3 e 53,2 anos, respectivamente, em 1997-99.[13] Comparem-se esses dados com o total sem aquela correção de expectativa de vida desses três países em 1950-55: 69,0, 40,8 e 38,7 anos, respectivamente.[14] Além do mais, estudos de vários países desenvolvidos indicam que a incapacidade nas populações idosas vem diminuindo.[15] Nos Estados Unidos, por exemplo, a taxa de incapacidade caiu 1,3% ao ano, entre 1982 e 1994, para pessoas de 65 anos ou mais, o que resultou em 1,2 milhão a menos de pessoas incapacitadas naquela faixa etária em 1994.[16] Portanto, estamos vivendo mais e com mais saúde. Assim, a quantidade e a qualidade de vida caminham juntas. Poder-se-ia argumentar que essas medidas se sobrepõem porque índices mais altos de fome e mortalidade reduzem a expectativa de vida. Entretanto, a expectativa de vida não reflete inteiramente o medo e o pavor associados à fome e à morte.
O último indicador que este estudo examina é o índice de desenvolvimento humano (IDH), agregado do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas. Ele foi criado em virtude do fato de que existem outros fatores necessários ao desenvolvimento, além do crescimento da renda. O IDH está baseado na média de três medidas: a expectativa de vida no nascimento, a instrução e o logaritmo de renda per capita – o logaritmo porque cada dólar adicional de renda acrescenta menos à qualidade de vida do que o dólar anterior. A composição do IDH pode ser justificada com base no fato de que a expectativa de vida, segundo se percebe, seja talvez o indicador mais importante de bem-estar humano; a renda per capita reflete o bem-estar material, e a obtenção de instrução – além de ser um fim em si – é essencial para manter e criar novo capital humano. Com o conjunto apropriado de instituições, a educação pode acelerar a criação e a difusão de tecnologia.[17] Além do mais, a educação (especialmente de mulheres) parece ser um fator-chave na disseminação de conhecimento em relação ao consumo de água potável, saneamento, higiene, nutrição e outras práticas de saúde pública que ajudam as sociedades a melhorar a saúde, diminuir a mortalidade e aumentar a expectativa de vida.[18]

Tendências nas medidas de bem-estar humano

As tendências das várias medidas de bem-estar humano estão melhorando com a globalização? Os hiatos nessas medidas entre países ricos e pobres estão crescendo e, em caso positivo, a globalização é a responsável?

Tendências com relação ao desenvolvimento econômico

O Gráfico 1, baseado em comparações de dados entre países, mostra que vários indicadores de bem-estar humano melhoram à medida que os países se tornam mais ricos, com as melhoras ocorrendo mais rapidamente nos níveis mais baixos de riqueza. Existem várias explicações para tal associação. Em primeiro lugar, o desenvolvimento econômico de fato melhora esses indicadores. Mais riqueza significa mais recursos para pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias; estas, por sua vez, direta ou indiretamente melhoram o bem-estar humano.[19] Significa também mais recursos para a alfabetização e a educação, que também, em geral, conduzem a mais inovação e difusão tecnológicas.[20] Igualmente importante é o fato de que as sociedades mais ricas dispõem de melhores condições para adquirir novas tecnologias, bem como as tecnologias existentes subutilizadas.[21] Por exemplo, com relação à saúde – representada no Gráfico 1 por mortalidade infantil e expectativa de vida – estas incluem tecnologias “antigas”, como tratamento de água para produzir água potável, saneamento, higiene básica, vacinação, antibióticos, controle de insetos e vetores, e pasteurização,[22] bem como novas tecnologias científicas, contra a AIDS e terapias de reidratação oral, transplantes de órgãos, mamografias e outros exames para diagnósticos. Incluem também tecnologia agrícola para melhorar o rendimento das colheitas, aumentando dessa forma a oferta de alimentos e diminuindo a fome e a desnutrição, o que, por sua vez, diminui as vítimas de doenças infecciosas e parasitárias.[23]
Historicamente, a diminuição da fome e da subnutrição tem estado entre as primeiras medidas práticas que os países vêm tomando para melhorar a saúde pública. Esse passo diminuiu a mortalidade infantil e aumentou a expectativa de vida.[24] E, se apesar do aumento da produção um país ainda tem escassez de alimentos, seu nível maior de riqueza lhe torna possível adquiri-los através do comércio.[25] Mais riqueza também torna provável que uma sociedade criará e manterá programas de alimentação para aqueles que estão no nível mais baixo de renda.[26] Portanto, conquanto “não se pode comer o PIB”,[27] quanto mais elevado ele for menos prováveis serão a fome e a subnutrição. Como ilustra o Gráfico 1, mais riqueza, por meio de múltiplos mecanismos – escolaridade maior, maior oferta de alimentos e maior acesso à água potável – resulta em melhor saúde.[28]
É provável que a causalidade funcione na direção contrária. Talvez sejam as melhorias no bem-estar humano que estimulem o desenvolvimento econômico, e não vice-versa. Pessoas mais saudáveis têm mais energia, estão menos propensas ao absenteísmo e, portanto, são mais produtivas em qualquer atividade econômica que desenvolvam.[29] Quando a malária foi erradicada em Mymensingh (Bangladesh), as colheitas aumentaram em 15% porque os agricultores dispunham de mais tempo e energia para o cultivo.[30] Em outras áreas, a eliminação de malária sazonal tornou possível que os agricultores plantassem uma segunda safra. Um estudo elaborado em conjunto pela Harvard University Center for International Development e a London School of Hygiene and Tropical Medicine avalia que se a malária tivesse sido erradicada em 1965 o PIB da África teria sido 32% maior em 2000.[31]
Além do mais, pessoas mais saudáveis podem dedicar mais tempo e energia à educação e ao desenvolvimento intelectual.[32] A saúde é particularmente importante durante os anos de crescimento das crianças. Também os incentivos para investir no desenvolvimento do capital humano aumentam se os beneficiários esperam viver até os 60 anos em vez de, digamos, só até os 40. Não é de surpreender que os níveis de educação cresçam com a expectativa de vida.[33] Hoje não é raro encontrar doutores e pesquisadores de trinta e poucos anos, de fato dedicando-se à profissão que antes demoravam literalmente uma vida para aprender. E tendo adquirido experiência, esses médicos e pesquisadores tornam-se importantes na contribuição para a inovação e difusão tecnológicas nas suas especialidades e para orientar outros no mesmo caminho. Logo, mais saúde ajuda a aumentar o capital humano, que auxilia a criação e a difusão de tecnologias e, portanto, de novas melhorias na saúde e também acelera o crescimento econômico.
Tanto as causas e os efeitos da riqueza, como da saúde, provavelmente se reforçam mutuamente num conjunto de ciclos interligados. Um destes é o ciclo saúde-riqueza, no qual – como vimos – a riqueza gera saúde e a saúde gera riqueza. Outro ciclo consiste na produção de alimentos, ao acesso a alimentos, educação e capital humano, que também ajuda a movimentar o ciclo saúde-riqueza. Esses ciclos fazem parte de um “ciclo de progresso” maior, em que o crescimento econômico e a mudança tecnológica se reforçam.[34]
Outra explicação ainda para a associação entre bem-estar e riqueza humanos é que os fatores que melhoram um também melhoram o outro. Esses fatores incluem sistemas legais e econômicos – mercados livres, segurança dos direitos de propriedade, governos e políticos honestos, previsíveis e comprometidos com a responsabilidade fiscal; e a adesão ao Estado de Direito – que encoraja a competição não só no âmbito comercial, mas também no âmbito científico e intelectual, e permite que aqueles que arriscam seu trabalho, seu capital intelectual e seus recursos financeiros lucrem com os riscos incorridos.[35] Essas instituições são também os fundamentos de sociedades civis e sistemas democráticos.
O comércio é parte integrante do ciclo de progresso. Um comércio mais livre estimula diretamente o crescimento econômico,[36] ajuda a disseminar novas tecnologias e estimula as invenções e inovações.[37] Por exemplo, a concorrência com fabricantes estrangeiros de automóveis acelerou a introdução de vários sistemas de segurança e de controle de emissão de gases nos EUA, melhorando tanto o bem-estar ambiental como o humano.[38]
GRÁFICO 2: Expectativa de vida e mortalidade infantil versus riqueza, 1962 e 1997

Fonte: : Indur M. Goklany, Economic Growth and the State of Humanity (Bozeman, Mont.: Political Economy Research Center, 2001), usando dados do Banco Mundial, World Bank Development Indicators 1999 (Washington: World Bank, 1999).


O comércio também ajuda a conter os custos básicos de infra-estrutura, incluindo o fornecimento de água, o saneamento e a geração de energia (apesar de os benefícios completos serem freqüentemente desperdiçados devido aos governos e políticos corruptos, ineficientes e medíocres).[39] Finalmente, como será discutido a seguir, o comércio globalizou a garantia de alimentos.[40]

Tendências quanto ao tempo ou mudança tecnológica
O Gráfico 2 mostra não só que a expectativa de vida cresceu com o nível do desenvolvimento econômico, mas também que toda a curva de expectativa de vida-riqueza vem crescendo ao longo do tempo.[41] O deslocamento ascendente da curva é coerente com a criação e a difusão no tempo de novas tecnologias, bem como as existentes mas subutilizadas. Efetivamente, no Gráfico 2 a mudança no tempo (representado pelo crescimento da curva de expectativa de vida de 1962 para a curva de expectativa de vida de 1997) serve para mostrar o desenvolvimento tecnológico.[42]
O gráfico mostra também que a mortalidade infantil diminui com o desenvolvimento econômico e a mudança tecnológica (toda a curva cai com o tempo).[43] Já demonstrei que tais fatores – melhoras em riqueza e tecnologia (tempo servindo como substituto) – são comuns a outros indicadores de bem-estar, inclusive aqueles do Gráfico 1.[44] Cumulativamente indicam que para cada nível específico de renda real, o bem-estar humano deve estar melhor hoje do que há algumas décadas.

Tendências em desigualdades de bem-estar
Fome e subnutrição

A preocupação com relação à capacidade de o mundo alimentar sua crescente população existe pelo menos desde a obra Essay on Population, de Malthus, há 200 anos. No começo a preocupação era global. Mas nas décadas de 1950 e 1960, apesar das privações da Grande Depressão e da II Guerra Mundial, parecia que o problema, se existisse, ficaria restrito aos países em desenvolvimento. Vários neomalthusianos, como Paul Ehrlich, autor de Population Bomb,[45] e os irmãos Paddock,[46] profetizaram com segurança a inanição apocalíptica no mundo desenvolvido no final do século XX. Mas, surpreendentemente, apesar do aumento sem precedentes da procura de alimentos causado pelo crescimento demográfico e econômico igualmente sem precedentes, o indivíduo médio nunca esteve mais bem alimentado e com menos possibilidade de estar com fome e subnutrido.
Entre 1950 e 2000, a população mundial cresceu 140% e a renda per capita mais de 170%. No entanto, devido ao enorme crescimento da produtividade agrícola e do comércio, o preço real dos alimentos nunca esteve tão baixo. Os baixos preços dos alimentos asseguram que os benefícios do aumento de produção sejam amplamente distribuídos e que os excedentes de alimentos fluam voluntariamente para áreas carentes. Como resultado, a oferta mundial per capita de alimentos melhorou continuamente durante os últimos 50 anos. Entre 1961 e 1999, a média diária de suprimento de alimentos por pessoa aumentou 24% globalmente, de 2.257 para 2.808 calorias.[47] O aumento foi ainda mais rápido nos países em desenvolvimento, onde aumentou 39%, de 1.932 para 2.684 calorias.
As melhorias para os indianos e para os chineses – 40% da humanidade – são especialmente notáveis. Em 1999, a oferta média diária de alimentos aumentou 82%, para 3.044 calorias, de um nível de subsistência de 1.636 calorias de 1961 (um ano de fome). Na Índia aumentou 48%, para 2.417 calorias, das 1.635 calorias de 1950-51.[48]
Entretanto, de acordo com o Gráfico 1, que mostra uma oferta diária per capita de alimentos crescendo com a riqueza, o progresso da oferta de alimentos per capita tem sido mais lento onde, por qualquer motivo – guerras, instabilidade política ou fracasso de políticas e instituições –, o desenvolvimento econômico tenha sido retardado. Por exemplo, entre 1961 e 1999 a média per capita diária de oferta de alimentos na África Subsaariana cresceu insignificantes 6%, de 2.059 para 2.195 calorias.[49] A queda da oferta de alimentos no Leste Europeu e na ex-União Soviética após o colapso do regime comunista naquela região apenas confirma a importância do desenvolvimento econômico.
A fim de colocar o aumento da oferta de alimentos per capita no contexto, a FAO calcula que um adulto de um país em desenvolvimento necessita de um mínimo de 1.300 a 1.700 calorias por dia só para manter a função metabólica básica quando em repouso. O consumo de alimentos abaixo desses níveis causa danos à saúde, emagrecimento e enfraquecimento físico e mental. Com uma atividade moderada, a necessidade média diária aumenta para 2.000 a 2.310 calorias por pessoa.[50]
Portanto, desde 1961 a oferta de alimentos disponível nos países em desenvolvimento passou a ser, em média, de inadequada para acima de adequada. Mas essas médias mascaram o fato de que atualmente a fome ainda persiste, porque várias pessoas infelizmente consomem alimentos abaixo da média. Não obstante, entre 1969-71 e 1997-99 o número de pessoas que sofriam de subnutrição crônica nos países em desenvolvimento caiu de 920 milhões para 790 milhões, ou seja, de 35% para 17% de sua população, apesar de um crescimento demográfico de 76%.[51] Assim sendo, os hiatos entre países desenvolvidos e em desenvolvimento relativos à fome e à subnutrição diminuíram, no total, em termos absolutos e relativos. Mas as tendências para a África Subsaariana contam uma história algo diferente. Entre 1979-81 e 1997-99 a parte da população subnutrida caiu de 38% para 34%, mas os números absolutos cresceram de 168 milhões para 194 milhões.[52]
Por que o desenvolvimento econômico reduz o nível de subnutrição? Comparação de dados entre países mostra que tanto os rendimentos das colheitas como a oferta per capita de alimentos seguem o padrão indicado no Gráfico 2, isto é, ambos aumentam com a renda.[53] Os rendimentos das colheitas aumentam porque países (ou agricultores) mais ricos têm mais condições de adotar tecnologias que aumentam a produtividade, tais como fertilizantes, pesticidas, sementes selecionadas e tratores.[54] Mas mesmo que um país tenha rendimentos baixos de suas colheitas ou uma produção insuficiente, se for rico poderá importar alimentos.[55] O Gráfico 1 mostra que quanto mais rico for o país, maior a disponibilidade de alimentos.
Por ser sempre possível que ocorra escassez local de alimentos no meio de uma superabundância mundial, a importância do comércio não deve ser subestimada. Atualmente, a importação de grãos chega a 10% da produção em países desenvolvidos e a 20% na África Subsaariana.[56] Sem essas importações, os preços dos alimentos naqueles países ficariam, sem dúvida, mais caros, e mais pessoas seriam alijadas do mercado. Em síntese, a globalização, através do comércio, tem ensejado a segurança da oferta de alimentos. E ao fazê-lo diminuiu os sérios riscos à saúde causados pela fome e pela subnutrição.[57]
Para resumir, os países em desenvolvimento onde a fome e a subnutrição foram mais reduzidas são também os que obtiveram o maior desenvolvimento econômico. Certamente, com base nesse indicador a globalização, que leva a um desenvolvimento econômico mais rápido e à expansão do comércio, seria a solução, e não o problema.

Mortalidade infantil

Antes da industrialização, a mortalidade infantil, medida pelo número de crianças mortas antes de completar um ano, estava acima de 200 por 1.000 nascimentos.[58] No início do Século XIX, a mortalidade infantil começou a cair nos países atualmente em desenvolvimento devido aos avanços na agricultura, na nutrição, na medicina e na saúde pública. Nos primeiros anos de 1950, um hiato se abriu entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento à medida que a mortalidade infantil caía para 59 nos primeiros e para 178 nos últimos.[59] Em 1998, mais avanços na medicina reduziram a mortalidade infantil nos países desenvolvidos para 9, mas devido à transferência mais rápida da tecnologia de saúde existente (inclusive de conhecimento) dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento, a mortalidade infantil caiu para 64 nos países em desenvolvimento.[60] Logo, o hiato entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento se reduziu à metade durante os últimos 50 anos.[61]


GRÁFICO 3: Mortalidade infantil, 1960-99

Fonte: Banco Mundial, World Bank Development Indicators 2001 (Washington: World Bank, 2001).


A queda na mortalidade infantil tem sido ampla e profunda. Desde pelo menos 1960 a mortalidade infantil diminuiu mais ou menos continuamente para cada um dos grupos de países relacionados no Gráfico 3.[62] Em qualquer ano, de acordo com o Gráfico 1, a renda per capita mais alta está geralmente associada a um índice de mortalidade infantil mais baixo. Entre 1960 e 1999, os hiatos nesse indicador entre países de renda alta da Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento e os outros grupos de renda encolheram, em vez de aumentarem. Os hiatos fecharam-se mais rapidamente nos países de renda média e mais lentamente na África Subsaariana. O fato pode surpreender, já que quanto maior o hiato inicial mais rápido ele deve encolher, pois quanto mais perto de zero for a mortalidade infantil mais difícil será reduzi-la no futuro.
Coerentemente com o Gráfico 2, a rápida difusão tecnológica de países desenvolvidos para países em desenvolvimento nas últimas décadas, a Tabela 1 indica que muitos países em desenvolvimento estão muito melhor hoje do que os atuais países desenvolvidos estiveram em níveis equivalentes de desenvolvimento econômico.[63] Em 1913, quando a renda per capita nos EUA era de US$ 5,301 (dólares internacionais de 1990), sua taxa de mortalidade infantil estava em torno de 100. Ao contrário, em 1998 as taxas da China e da Índia, por exemplo, eram de 31 e 71, respectivamente, apesar de as rendas per capita estarem entre 41 e 67% mais baixas.
Logo, como no caso da fome e da subnutrição, as regiões onde a mortalidade infantil melhorou menos são aquelas com desenvolvimento econômico insuficiente ou que, por algum motivo, não foram capazes de usar completamente os conhecimentos e as tecnologias existentes. Mais uma vez, a globalização parece ser parte da solução, e não o problema.


TABELA 1: Progresso tecnológico, mortalidade infantil e expectativa de vida
País
Ano
Renda per capita ($ Internacional 1990)
Motalidade infantil(mortes por 1.000 nascimentos)
Expectativa de vida no nascimento (anos)
Estados Unidos
1913
5.301
~100
52
Gana
1998
1.244
57
59
Índia
1998
1.745
71
63
China
1998
3.117
31
70
Peru
1998
3.666
40
68

Fonte: Angus Madison, The World Economy: A Millennial Perspective (Paris: OECD, 2001); U.S. Bureau of the Census, Historical Statistics of the United States: Colonial Times to 1970 (Washington: Government Printing Office, 1975); e World Bank, World Bank Development Indicators 2001 (Washington: World Bank, 2001).

Expectativa de vida

Por ter sido o declínio da mortalidade infantil historicamente o principal fator da melhora da expectativa de vida, existem certas semelhanças entre o progresso dos dois indicadores, especialmente em anos mais recentes.
Para grande parte da história humana, a expectativa média de vida era entre 20 e 30 anos.[64] A expectativa de vida nos atuais países desenvolvidos aumentou ligeiramente no início do século XIX, seguida de (pequenas) quedas na metade de 1800 (provavelmente devido à urbanização) antes de começar, com algumas poucas importantes exceções e algumas pequenas flutuações, um progresso sustentado continuado até hoje.[65]
Contribuíram para esse progresso os aumentos na oferta de alimentos per capita, a teoria do gérmen e a adoção de medidas básicas de saúde pública, como o acesso a água potável, saneamento, pasteurização, vacinação, antibióticos e o uso de pesticidas, como o DDT, para controle da malária e outras enfermidades.
Por terem os progressos médicos e de saúde pública sido iniciados, desenvolvidos e adotados primeiramente pelos países desenvolvidos, um importante hiato se abriu na média da expectativa de vida entre esses países e os países em desenvolvimento. No começo dos anos 50 o hiato estava em 25,7 anos a favor dos primeiros.[66] Mas no final dos anos 90, com a disseminação e a transferência de tecnologia (incluindo de conhecimento) para países em desenvolvimento, esse hiato fechou em 11,6 anos.
GRÁFICO 4: Expectativa de vida, 1960-99

Fonte: Banco Mundial, World Bank Development Indicators 2001 (Washington: World Bank, 2001).

Entretanto, ao observar melhor as tendências para diferentes grupos de países, é possível ver uma situação mais complexa. O Gráfico 4 compara as expectativas de vida de países da OECD, com renda alta, com as de países com renda média e baixa e da África Subsaariana. De acordo com os Gráficos 1 e 2, em qualquer ano a expectativa de vida aumenta em função da renda per capita. Entre 1960 e 1999, a expectativa de vida melhorou nos países com renda alta da OECD e nos países com renda média e baixa. Entretanto, o hiato entre esses dois grupos de países, que havia encolhido de 24,5 em 1960 para 7,9 no final dos anos 80, aumentou ligeiramente para 8,6 em 1999, principalmente porque os países de renda média incluem várias nações do Leste Europeu e a antiga União Soviética, onde a expectativa de vida diminuiu devido ao encolhimento de suas economias naquele período.[67]
O hiato entre países de renda alta da OECD e países de baixa renda também diminuiu no período pós II Guerra Mundial. Mas aumentou ligeiramente de 1997 até 1999 porque, enquanto a expectativa de vida continuava crescendo nos primeiros em função dos progressos da medicina, ela diminuiu ligeiramente nos países do outro grupo.[68] A queda foi particularmente acentuada na África Subsaariana, onde, como demonstrado no Gráfico 4, a expectativa de vida caiu durante três até 1990, devido à epidemia de HIV/AIDS e, em alguns casos, mais importante ainda, devido ao ressurgimento da malária,[69] agravado pela intranqüilidade civil e pelos conflitos de fronteira em várias regiões. Conseqüentemente, o hiato entre países ricos e pobres aumentou nos anos 90, revertendo a direção da tendência de décadas anteriores. Mas não cresceu porque os países ricos tivessem aumentado sua expectativa de vida à custa dos países pobres; foi porque quando precisaram enfrentar novas doenças (como a AIDS) ou novas formas de doenças antigas (por exemplo, a tuberculose resistente aos medicamentos), os países pobres não dispunham de recursos econômicos e humanos não só para desenvolver tratamentos eficientes como também para importar e adaptar tratamentos descobertos e desenvolvidos nos países ricos. É importante notar que tanto os recursos humanos como os econômicos têm maior probabilidade de aumentar com a globalização do que sem ela.
A experiência da África Subsaariana com a AIDS contrasta fortemente com a dos países mais ricos. Quando a doença primeiro apareceu, ela resultou em morte certa em todos os lugares, tanto nos países ricos como nos pobres. Os primeiros, particularmente os Estados Unidos, lançaram um ataque maciço à doença, que levou ao desenvolvimento de vários meios de reduzir o número de vítimas. Em conseqüência, entre 1995 e 1999 os casos de morte por AIDS nos EUA diminuíram em mais de 2/3 (de 50.610 para 16.273), apesar de o aumento do número de casos ter sido de quase 50% (de 216.796 para 320.282). Em 1996 era a oitava causa de morte nos EUA. Em 1998 havia saído da lista das 15 principais causas.[70]
Os Estados Unidos conseguiram diminuir os casos de mortes por AIDS por serem ricos e disporem de recursos humanos para enfrentar a doença. Mas apesar do fato de hoje existir a tecnologia necessária e, na teoria, esta estar disponível mundialmente, melhorias similares ainda estão por ocorrer nos países subsaarianos, pois eles não dispõem de recursos para custear o tratamento, a não ser que seja subsidiado pelo governo, por caridade ou mesmo por setores dos países mais ricos. E são justamente esses subsídios que o esforço mundial espera mobilizar para conter o HIV/AIDS. Trata-se de uma demonstração clara de que quanto maiores os recursos econômicos, maiores as possibilidades não só de criar novas tecnologias mas, igualmente importante, de efetivamente colocá-las em uso. E a não ser que as tecnologias sejam usadas, elas ficarão ociosas na prateleira, sem benefício para a humanidade.
Pode-se argumentar que a rápida disseminação da AIDS e de outras doenças foi uma das conseqüências não-intencionais da globalização. Sem a rede de transporte que permite a locomoção de bens e pessoas, a AIDS, por exemplo, poderia ter sido um fenômeno isolado e não pandêmico, o que é, realmente, uma verdade. Mas a mesma rede também ajudou a diminuir problemas de saúde pública de várias maneiras. Ajudou a diminuir a fome e a desnutrição transportando produtos agrícolas das fazendas para o mercado. Isso foi fundamental para aumentar a oferta global de alimentos nos últimos 50 anos e, como visto, foi um dos primeiros passos para melhorar a saúde pública. Segundo, a rede de transportes é crucial para a disseminação mundial de tecnologias médicas e de saúde pública, pois torna possível, por exemplo, a distribuição de medicamentos, vacinas, equipamentos médicos, inseticidas para controle de peste e equipamentos para tratamento de água. Mas a globalização é mais do que a movimentação de bens: envolve também a movimentação de pessoas e a disseminação de suas idéias, conhecimentos e experiências. A rede também permite o transporte de médicos, enfermeiras, agrônomos, engenheiros e cientistas entre os mundos desenvolvidos e em desenvolvimento.
Mas existe uma área onde a globalização de idéias e atitudes retardou o progresso gerador do bem-estar humano. Um dos motivos da reincidência da malária em muitos países em desenvolvimento, entre 1980 e 1990, se deveu ao fato de que, no início dos anos 60, o DDT, usado após a II Guerra Mundial para combater a malária na Europa e na América do Norte, começou a ser condenado nos países ricos.[71] Muitos dos países ricos aboliram o uso de DDT e reduziram, ou eliminaram, a sua produção. Apesar de esse fato não ter tido efeito na saúde pública daqueles países – os países ricos já haviam debelado a malária e podiam, além do mais, pagar substitutos caso fosse necessário para combater qualquer reincidência –, as conseqüências para muitos países em desenvolvimento foram trágicas. O reflexo global das atitudes dos países ricos em relação ao DDT, conjugado à escassez ou ao aumento de preço devido à redução da produção e à insistência paternalista das agências assistenciais do Ocidente de que as conseqüências do DDT no meio ambiente justificavam a suspensão de seu uso na saúde pública, reduziu o acesso do mundo em desenvolvimento à sua arma mais barata e eficaz da sua longa luta contra a malária.[72] Esse fato contribuiu para o crescimento da taxa de mortalidade por malária na África Subsaariana.[73] A taxa, que havia caído de 216 por 100.000, em 1930, para 107 em 1970, voltou para 165 por 100.000 em 1997.[74] Entre 1990 e 1997, de acordo com o Relatório Mundial de Saúde de 1999, da Organização Mundial de Saúde, a taxa de mortalidade por malária na África Subsaariana cresceu em 17 mortes por 100.000 (de 148 para 165 por 100.000).[75] Notadamente, essa taxa excedeu o aumento de mortes naturais (total) na região (que aumentaram de 1.541 para 1.552 por 100.000 entre 1990 e 1997) de 11 por 100.000 durante o mesmo período.[76] Isto é, apesar da epidemia de AIDS, mas devido ao aumento de casos de morte por malária, a taxa de mortalidade na África Subsaariana (e a expectativa de vida) poderia ter sido mantida durante aquele período.
Não obstante, o fato de que a expectativa de vida nos países Subsaarianos ainda é superior aos 20-30 anos típicos antes da globalização indica que, apesar da epidemia da AIDS e da reincidência da malária, o efeito líquido da globalização tem sido positivo no que diz respeito à expectativa de vida.
Essa conclusão – apresentada no Gráfico 2 com o deslocamento para cima na curva de expectativa de vida a partir de 1962 até 1997 – é confirmada pela Tabela 1, onde as expectativas de vida são muito mais elevadas em vários países em desenvolvimento do que são nos atuais países desenvolvidos (como os Estados Unidos) com níveis de desenvolvimento econômico equivalentes.

GRÁFICO 5: Trabalho infantil, 1960-99

Fonte: Fonte: Banco Mundial, World Bank Development Indicators 2001 (Washington: World Bank, 2001).
Trabalho infantil

O Gráfico 5 mostra que a proporção de crianças no mercado de trabalho também vem caindo em cada um dos grupos de renda, e quanto mais rico o grupo, mais baixa a porcentagem. Hiatos em trabalho infantil entre a África Subsaariana, os países de baixa e média renda e os países de alta renda da OECD vêm encolhendo pelo menos desde 1960. O indicador também mostra que o hiato entre países de alta renda da OECD e os países de renda média foi o que mais diminuiu; o hiato entre o primeiro e a África Subsaariana foi o que menos diminuiu.[77]

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

Amplos progressos em expectativa de vida, escolaridade e crescimento econômico contribuíram para melhorar o IDH de muitos países. O Gráfico 6, baseado no Relatório de Desenvolvimento Humano de 2001 do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, mostra que desde 1975 – primeiro ano com dados fornecidos pelo relatório – a população medida pelo IDH melhorou para os assim chamados países na faixa de desenvolvimento alto, médio e baixo, bem como para os países Subsaarianos (dois terços dos quais também se incluem na camada de baixo desenvolvimento). Note-se que nesse gráfico a escala de IDH é de uma unidade.
Não obstante, apesar do notável progresso nos vários grupos de países, o IDH de alguns piorou na última década. De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2001 do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, dos 97 países para os quais existem dados para 1975 e 1999 a Zâmbia tem o dúbio, porém único registro de IDH mais baixo em 1999 do que em 1975, porque tanto o PIB per capita como a expectativa de vida caíram no período. A presença de refugiados de conflitos de países vizinhos pode ter contribuído para esses declínios. É curioso que, em termos de ajuda como uma fração do PIB, de 22,8%, a Zâmbia é um dos países do mundo mais beneficiado com ajudas estrangeiras.[78] Logo, dificilmente sua espiral decrescente pode ser atribuída à globalização ou ao enriquecimento ou progresso de países ricos à custa de países pobres. Além do mais, dos 128 países dos quais existe registro de dados, 18 deles, ou 15% – 10 Subsaarianos e oito países do Leste Europeu e da antiga União Soviética – registraram IDH mais baixos em 1999 do que em 1990. A expectativa de vida em cada um dos 10 países Subsaarianos caiu durante esse período principalmente devido à HIV/AIDS ou à malária, ou ambos; com a exceção de dois casos, o PIB per capita também caiu. Durante o período, a maioria daqueles países foi também afetada direta ou indiretamente por agitações civis ou conseqüências de conflitos em países vizinhos, que enfraqueceram ainda mais os seus recursos. A renda per capita caiu em todos os países do Leste europeu, enquanto a expectativa de vida caiu em seis dos oito países.
GRÁFICO 6: Índice de Desenvolvimento Humano, 1975-99

Fonte: Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, Human Development Report 2001 (Nova York: UNDP, 2001); e Banco Mundial, World Bank Development Indicators 2001 (Washington: World Bank, 2001).

Com os outros aspectos mantidos constantes, poder-se-ia esperar que o progresso do IDH seria em geral mais alto para a camada mais baixa e menor para a camada mais alta dos países, pois estes estão mais perto do topo da escala de IDH e porque, com cada progresso no IDH, torna-se mais difícil um progresso futuro (exatamente como cada dólar adicional soma menos na qualidade de vida do que o dólar anterior). Mas, de fato, conforme mostra o Gráfico 6, entre 1975 e 1999 os países do nível médio tiveram o maior progresso, seguidos, pela ordem, pelos de nível baixo, nível alto e os países subsaarianos. Como resultado, o hiato de IDH entre os países de nível alto e médio registrou a maior queda. O hiato entre países de nível alto e baixo também registrou ligeira queda, mas, pelas razões apresentadas anteriormente, o hiato entre países de nível alto e os subsaarianos aumentou.

Resumindo as tendências

O bem-estar da grande maioria da população mundial melhorou e continua melhorando. Devido a uma combinação de crescimento econômico e mudança tecnológica, em comparação com o que ocorria há 50 anos o indivíduo médio hoje vive mais, tem menos fome, é mais saudável, mais instruído e tem mais possibilidade de ter os filhos numa sala de aula do que num local de trabalho. Naquele período, os índices de bem-estar melhoraram para todos os grupos de países, apesar de o índice de expectativa de vida ter caído em muitos países subsaarianos e do Leste Europeu desde os últimos anos da década de 1980 devido à AIDS, à malária ou a problemas relacionados à deterioração econômica.
Para cada indicador examinado, a despeito do fato de os ricos estarem mais ricos e os pobres mais pobres, a maior parte dos hiatos de bem-estar humano entre os países ricos e outros grupos de renda encolheu durante as últimas quatro décadas. Entretanto, ao comparar os países ricos e a África Subsaariana, apesar de o hiato em mortalidade infantil entre os dois continuar se fechando, o hiato em expectativa de vida cresceu na última década (mas não o suficiente para apagar o grande progresso alcançado anteriormente). Não obstante, no total o hiato correspondente ao IDH decresceu.

Globalização e Desigualdade

A sabedoria convencional execra a desigualdade de renda, mas pode haver situações nas quais alguma desigualdade beneficiaria a humanidade. Considere-se, por exemplo, que desde que a maior parte do progresso em saúde pública vem sendo grandemente conquistada (exceto onde a globalização ficou para trás), a pesquisa e a implementação de cura e tratamento para doenças atualmente incuráveis (tais como derrames, doenças cardíacas e câncer) poderiam se tornar progressivamente mais caras. As sociedades mais ricas ocupam uma posição melhor para investir em pesquisa e no desenvolvimento de tecnologias novas ou melhores em geral e em tecnologias para detectar, tratar ou eliminar essas doenças em particular. A AIDS é um dos casos.
Além do mais, as novas tecnologias são com freqüência relativamente onerosas no início. Portanto, os países ricos são geralmente os primeiros a obterem as tecnologias novas ou inovadoras. Na medida em que os ricos compram a nova tecnologia, o fornecedor pode aumentar a produção e o preço cair em função de economias de escala e da experiência, se não por outro motivo. As quedas de preços permitem que os menos ricos possam também ter acesso àquela tecnologia, o que então abre o caminho para futura redução de preços e estimula as pessoas mais modestas a ingressarem no mercado. Assim, pode-se argumentar que a desigualdade de riqueza estimula a invenção, a inovação e a difusão de novas tecnologias.
O padrão mencionado vem sendo repetido com freqüência no caso de bens e serviços (como telefones, VCRs (vídeos) computadores e até mesmo viagens de férias para lugares exóticos), bem como para tecnologia na área de saúde (como antibióticos, transplantes de órgãos e, agora, tratamento de AIDS). No início as inovações eram caras, mas seus custos já caíram. Portanto, alguma desigualdade de riqueza provavelmente beneficia a humanidade. Presumivelmente, para um certo conjunto de características de oferta e demanda de uma dada tecnologia existe um nível ótimo de desigualdade de renda que maximizaria a taxa de adoção daquela tecnologia bem como a taxa pela qual ela melhora o bem-estar humano. Em outras palavras, mesmo que se ignorassem tendências nas desigualdades, um outro indicador mais importante de bem-estar humano, a desigualdade de renda é uma lente fraca para visualizar os méritos da globalização.
Sem se restringir somente à desigualdade de renda, o economista Amartya Sen, laureado pelo Prêmio Nobel, alega que a desigualdade é a questão central com relação à globalização e que uma “questão crucial diz respeito à repartição dos ganhos potenciais resultantes da globalização, entre países ricos e pobres, e entre diferentes grupos de países”.[79]
Se a alegação de Sen a respeito da centralidade de desigualdade for aceita, os dados apresentados e discutidos neste documento indicam que tendo ou não as desigualdades de renda sido exacerbadas, em termos de medidas de bem-estar verdadeiramente importantes – fome, mortalidade infantil, expectativa de vida, trabalho infantil –, os países do mundo estão muito mais próximos da igualdade agora do que há algumas décadas.
Mas nos últimos 12 anos o hiato de expectativa de vida entre os países ricos e os países mais pobres se expandiu. Portanto, pode-se discutir que, ao menos com relação a esse indicador mais importante, a globalização pode contrariar a “questão crucial” de Sen. Mas não é mais razoável esperar que a globalização conduza à igualdade de ganhos nos países do que, digamos, um curso de economia possa gerar igualdade de ganhos em conhecimento para todos os estudantes. Sen, por exemplo, se beneficiou muito mais de seus estudos do que os seus colegas, não porque alguém se beneficiou menos, mas talvez por estar mais preparado, ter trabalhado – estudado mais, ou mesmo por ter mais habilidade natural. Assim como a repartição de benefícios ou resultados não indica o grau de educação, o progresso desigual do bem-estar humano não condena a globalização.
De fato, os Gráficos 1 a 6 sugerem que onde os hiatos de bem-estar se expandiram não foi por excesso de globalização, mas devido à globalização de menos. Os ricos não estão em melhor situação porque tiraram algo dos pobres; ao contrário, os pobres estão melhor por terem se beneficiado das tecnologias desenvolvidas pelos ricos, e a situação poderia estar melhor se estivessem mais bem preparados para usufruir os benefícios da globalização. Até onde os ricos podem ter culpa é que, primeiro, ao condenarem o DDT – e aqui a globalização é culpada – também afetaram as atitudes nos países em desenvolvimento.[80] Isso contribuiu para a reincidência da malária nos anos 80 e 90, que causou o aumento da taxa de mortalidade – e diminuiu a expectativa de vida – na África Subsaariana além do que teria sido esperado. Segundo, e talvez mais importante, ao proteger setores favorecidos da economia com subsídios e barreiras de importação – atividades que não melhoraram necessariamente seu próprio bem-estar econômico – os ricos retardaram o andamento da globalização e tornaram mais difícil a possibilidade de vários países em desenvolvimento usufruírem dos benefícios.

NOTAS:

* Indur Goklany é um acadêmico autônomo e o autor de The Precautionary Principle: A Critical Appraisal of Environmental Risk Assesment (Cato Institute, 2001) e Clearing the Air: The Real Story of the War on Air Pollution (Cato Institute, 1999)
[1] Ver, por exemplo, Kevin Warkins, Aart Kraay e David Dollar, “Point/Counterpoint: Making Globalization Work for the Poor”, Finance and Development 39, nº 1 (março 2002), p. 24-28; Martin Khor, “Blacklash Grows against Globalisation”, 1996, www.globalpolicy.org/globaliz/bcklash1.htm; W. Bowman Cutter, Joan Spero e Laura D’Andrea Tyson, “New World, New Deal”, Foreign Affairs (março-abril 2000): 80-98, www.foreignpolicy2000.org/library/issuebriefs/readingnotes/fa_tyson.html; Bernard Wasow, “New World, Bum Deal?” Foreign Affairs (julho-agosto 2000), www.tcf.org/Opinions/In_the_News/Wasow-NewWorld_BumDeal.html; Jay Mazur, “Labor’s New Internationalism”, Foreign Affairs (janeiro-fevereiro 2000): 79-93; “The FP Interview: Lori’s War”, entrevista originalmente publicada em Foreign Policy (Primavera 2000), www.foreignpolicy.com/best_of_fp/articles/wallach.html; e United Nations Development Program, Human Development Report 1999 (Nova York: UNDP, 1998), p.3-11.
[2] Cutter, Spero e Tyson.
[3] David Dollar e Aart Kraay, “Spreading the Wealth”, Foreign Affairs (janeiro-fevereiro 2000), www.foreignaffairs.org/articles/Dollar0102.html (capturado em maio 26, 2002). Xavier Sala-i-Martin acha que tanto as taxas de pobreza mundial como de desigualdade de renda global caíram substancialmente nos últimos 20 anos. Xavier Sala-i-Martin, “The World Distribution of Income”, National Bureau of Economic Research working paper nº 8933, maio 2002, www.papers.nber.org/tmp/32723-w8933.pdf.
[4] Por exemplo, Stephen Lewis, um líder político do Novo Partido Democrático do Canadá, ex-embaixador canadense para as Nações Unidas e ex-diretor-executivo da UNICEF, teria dito: “Existe algo profundamente errado com a globalização... Existem mais coisas no mundo do que a criação de mercados maiores. Não podemos ignorar a dimensão humana”. Citado em Ryan Smith, “Lewis Flays Globalization”, University of Alberta Express News, janeiro 29, 2001, em arquivo com o autor. Da mesma maneira, Lori Wallach, um organizador antiglobalização que se tornou conhecido durante os protestos de Seattle, afirma:”A questão é: o que está ocorrendo em termos de medidas reais de bem-estar? Assim, enquanto o volume e o fluxo de bens podem estar altos, e em alguns países do mundo o PIB também, aqueles indicadores econômicos não representam o que está ocorrendo no padrão de vida diário para um enorme número de pessoas no mundo. Isso conduz a uma das maiores críticas à OMC em seus primeiros cinco anos, isto é, enquanto o total de fluxo comercial global continua crescendo, a parte do fluxo comercial dos países em desenvolvimento está continuamente caindo. Da mesma forma, durante aquele período de cinco anos, enquanto os indicadores macroeconômicos freqüentemente pareciam estar bem, os salários reais em muitos países caíram, e a desigualdade salarial cresceu tanto dentro como entre os países”. The PF Interview.
[5] Zach Dubinsky, “Amid the Tears: Protesters, Police, Politics and the People of Quebec”, Cleveland Free Times, abril 25 – maio 1, 2001. Esse slogan lembra o título de um livro de Eric A. Davidson, You Can’t Eat GNP: Economics As If Ecology Mattered (Cambridge: Mass.: Perseus, 2000).
[6] Indur M. Goklany, Economic Growth and the State of Humanity (Bozeman, Mont.: Political Economy Research Center, 2001), p.6,10-19; e Indur M. Goklany, “The Future of the Industrial System”, estudo apresentado na Conferência Internacional sobre Ecologia Industrial e Sustentabilidade, University of Technology of Troyes, Troyes, France, setembro 22-25, 1999.
[7] James Gwartney e Robert Lawson com Walter Park e Charles Skipton, Economic Freedom of the World: Annual Report 2001 (Vancouver, B.C.: Fraser Institute, 2001); David Dollar e Aart Kraay, “Growth Is Good for the Poor”, World Bank, Development Research Group, 2000, www.worldbank.org/research/growth/absdollakray.html; James Gwartney, Randall Holcome e Robert Lawson, “The Scope of Government and the Wealth of Nations”, Cato Journal 18, nº 2 (1998): 163-90; Seth W. Norton, “Poverty, Property Rights, and Human Well-Being: A Cross-National Study”, Cato Journal 18, nº 2 (1998): 233-45; e Robert J. Barro, The Determinants of Economic Growth: A Cross-Country Empirical Study (Cambridge, Mass.: MIT Press, 1997). Com relação à democracia e ao crescimento econômico, Barro, p.52-61 sugere que um maior crescimento econômico tende a aumentar a democracia (a chamada hipótese Lipset), mas o efeito da democracia sobre o crescimento econômico é misto; aparentemente, o crescimento aumenta com a democracia em níveis baixos de democracia, mas diminui em níveis altos, talvez porque os impulsos de redistribuição são mais dificilmente contidos nas democracias. Esse fato está na obra de William Easterly, The Elusive Quest for Growth: Economists’ Adventures and Misadventures in the Tropics (Cambridge, Mass.: MIT Press, 2001), p.265-67. Ver também Dani Rodrik, “Democracy and Economic Performance”, Harvard University, Kennedy School of Government, dezembro 14, 1997, www.ksghoome.harvard.edu/~.drodrik.academic.ksg/demoecon.PDF; e Francisco L. Rivera-Batiz, “Democracy, Governance and Economic Growth: Theory and Evidence”, sem data, www.columbia.edu/cu/economics/discpapr/DP0102-57.pdf.
[8] O Gráfico 1 se baseia em comparações estatísticas entre países relatadas em Goklany, Economic Growth and the State of Humanity, e Indur M. Goklany, The Precautionary Principle: A Critical Appraisal of Environment Risk Assessment (Washington: Cato Institute, 2001), p.23,76-78. Os dados usados para gerar esse gráfico são do World Bank Development Indicators 1999 do Banco Mundial (Washington: Banco Mundial, 1999), exceto para a oferta diária de alimentos per capita, que são do Instituto de Recursos Mundiais, World Resources 1998-1999 (Washington: World Resources Institute, 1998). Cada uma das curvas no Gráfico 1 se baseia em uma equação mais adequada, baseada em regressão linear logarítmica do indicador sobre o logaritmo da renda per capita (estimada com PIB per capita, com a exceção da curva de mortalidade infantil, que foi gerada por uma regressão log-log. As curvas que representam o acesso à água potável e à escola foram interrompidas no nível 100%, enquanto a curva referente ao trabalho infantil foi no nível de 0%. As inclinações de cada uma das linhas de regressão foram significativas no nível de 0,1% ou melhor. O número de pontos (N) e R2 para os indicadores foram os seguintes: 148 e 0,645 para expectativa de vida, 147 e 0,745 para mortalidade infantil, 150 e 0,629 para oferta diária de alimentos per capita, 96 e 0,520 para escolaridade, 51 e 0,549 para acesso à água potável, e 140 e 0,534 para trabalho infantil.
[9] Por exemplo, 100% para escolaridade e acesso à água potável e 0% para trabalho infantil (medida pela porcentagem de crianças entre 10 e 14 anos no mercado de trabalho).
[10] Ver Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, Human Development Report 2001 (Nova York: UNDP, 2001).
[11] Jasper Becker, Hungry Ghosts: Mao’s Secret Famine (Nova York: Free Press, 1996).
[12] Robert W. Fogel, “The Contribution of Improved Nutrition to the Decline of Mortality Rates in Europe and America”, in The State of Humanity, ed. Julian L. Simon (Cambridge, Mass.: Blakwell, 1995), p.61-71; Robert W. Fogel, The Fourth Great Awakening and the Future of Egalitarianism (Chicago: University of Chicago Press, 2000), p.74-79; World Health Organization, World Health Report 1999 (Genebra: WHO, 1999); Richard A. Easterlin, Growth Triumphant: The Twenty-First Century in Historical Perspective (Ann Arbor: University of Michigan Press, 1996), p.46, 89-91; e Indur M. Goklany, “Saving Habitat and Conserving Biodiversity on a Crowded Planet”, BioScience 48 (novembro 1998): 941-53.
[13] Organização Mundial de Saúde, World Health Report 2000 (Genebra: WHO, 2000), p.176-83.
[14] Instituto de Recursos Mundiais, World Resources 1998-1999.
[15] U.S. Department of Health and Human Services, Office of Disability, Aging and Long Term Care, Active Aging: A Shift in the Paradigm (Washington: HHS, 1997), www.aspe.hhs.gov/daltcp/reports/actaging.htm; ver também Eileen M. Crimmins, Yasuhiko Saito e Dominique Ingegneri, “Trends in Disability-free Life Expectancy in the United States, 1970-90”, Population and Development Review 23, nº 3 (1997): 555-72, 689-90.
[16] Ibid.
[17] Joel Mokyr, The Lever of Riches: Technological Creativity and Economic Progress (Nova York: Oxford Univesity Press, 1990), p. 174-76; Gwartney, Holcomb, e Lawson; Barro, The Determinants of Economic Growth, p.19-23; Robert J. Barro, Education and Economic Growth, www.hrdc-drhc.gc.ca/stratpol/arb/conferences/oecd/education.pdf; e Easterly, p.71-84.
[18] Easterlin, p.9, 79. Barro, Education and Economic Growth, p.20-21, sugere que a educação de mulheres no nível primário poderia aumentar o crescimento econômico ao diminuir a taxa total de fertilidade, mas essa análise não mostra qualquer efeito importante sobre o crescimento econômico proveniente de educação de segundo grau para mulheres, que, ele opina, poderia ser devido à discriminação de sexo. Dean Filmer e Lant Pritchett mostram que as taxas de mortalidade infantil – indicadores de saúde pública – caíam com o nível educacional feminino. Este pode ser um mecanismo pelo qual a educação de mulheres estimula o crescimento econômico. Dean Filmer e Lant Pritchett, Child Mortality and Public Spending on Health: How Much Does Money Matter? Outubro 17, 1997, www.worldbank.org/html/dec/Publications/Workpapers/WPS1800series/wps1864/wps1864.pdf.
[19] Não é surpresa que as despesas com pesquisa e desenvolvimento aumentem com o PIB per capita. A análise de regressão linear de dados comparativos entre países para 1994 do Banco Mundial, World Development Indicators 1999, mostra que a inclinação é significante ao nível de 5% (N = 53, R2 = 0,506). Essa análise usou o PIB per capita para 1994 ajustado à paridade de poder de compra. Ver também Indur M. Goklany, “Strategies to Enhance Adaptability: Technological Change, Economic Growth and Free Trade”, Climatic Change 30 (1995): 427-49.
[20] Easterlin, p.46. Entretanto, segundo Mokyr, p.174-175, este pode não ser sempre o caso. Ver também Easterly, p.71-84.
[21] Goklany, “Strategies to Enhance Adaptability”; e Goklany, “Saving Habitat and Conserving Biodiversity”.
[22] Easterlin, p. 161.
[23] Fogel, “The Contribution of Improved Nutrition”, p.61-71; Fogel, The Fourth Great Awakening, p.78; World Health Organization, World Health Report 1999; Easterlin; e Goklany, “Saving Habitat and Conserving Biodiversity”.
[24] Fogel, The Fourth Great Awakening; e Easterlin.
[25] Goklany, “Saving Habitat and Conserving Biodiversity”; Goklany, “Strategies to Enhance Adaptability”; e Indur M. Goklany, “Potential Consequences of Increasing Atmospheric CO2 Concentration Compared to Other Environmental Problems”, Technology 7S (2000): 189-213.
[26] Goklany, “Saving Habitat and Conserving Biodiversity”; e Goklany, “Strategies to Enhance Adaptability”.
[27] Dubinsky; e Davidson.
[28] Goklany, “Saving Habitat and Conserving Biodiversity”; ver também Lant Pritchett e Lawrence H. Sumers, “Wealthier Is Healthier”, Journal of Human Resources 31 (1996): 841-68.
[29] World Bank, World Development Report: Investing in Health (Nova York: Oxford University Press, 1993), p. 17-21; Fogel, “The Contribution of Increased Nutrition”; Easterlin, p.89-91; World Health Organization, World Health Report 1999; e Barry Bloom, “The Future of Public Health”, Nature 402 (Supplement 1999): C63-64.
[30] Easterlin, p.90.
[31] Harvard University Center for International Development and the London School of Hygiene and Tropical Medicine, Economics of Malaria, Executive Summary, 2000, www.malaria.org/jdsachseconomic.html.
[32] World Health Organization, World Health Report 1999; e Fogel, “The Contribution of Increased Nutrition”.
[33] Goklany, Economic Growth and the State of Humanity, Gráficos 3 e 7, p.11, 18.
[34] O ciclo de progresso está brevemente descrito em ibid., p.26-31. Ver também Goklany, “The Future of the Industrial System”.
[35] Ver, por exemplo, Barro, The Determinants of Economic Growth; Dollar e Kraay, “Growth Is Good for the Poor”; Gwartney e Lawson; e Gwartney, Holcomb, e Lawson.
[36] Jeffrey A. Frankel e David Romer, “Does Trade Cause Growth?” American Economic Review (junho 1999): 379-99; Barro, The Determinants of Economic Growth; and Dollar e Kraay, “Growth Is Good for the Poor”.
[37] Goklany, “Strategies to Enhance Adaptability”.
[38] Ibid.
[39] Um exemplo claro da importância do comércio no progresso do bem-estar humano vem do Iraque, cuja incapacidade, devido às sanções comerciais, para operar e manter sua água, saneamento e sistema elétrico ou de obter alimento suficiente para sua população contribuiu para a deterioração da saúde pública e a redução da expectativa de vida desde a Guerra do Golfo. A necessidade de aliviar esses problemas foi a base para várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU para estender o programa “Petróleo por alimento”. United Nations, “Security Council Extends Iraq ‘Oil-for-Food’ Programme for Further 186 Days”, Press release SC/6872, 8 de junho de 2000, www.un.org/News/Press/docs/2000/20000608.sc6872.doc.html.
[40] Goklany, “Strategies to Enhance Adaptability”.
[41] O Gráfico 2 se baseia nas análises de comparações entre países relatadas em Goklany, Economic Growth and the State of Humanity, p.11, 15, usando dados do Banco Mundial, World Development Indicators 1999. Nesse gráfico o PIB per capita se baseia em dólares constantes (1995) pelas taxas de câmbio do mercado. Assim como no Gráfico 1, as curvas de expectativa de vida se baseiam em equações mais adequadas, geradas pelo uso de regressões lineares logarítmicas. As inclinações das duas linhas de regressão são significativas, isto é, o desenvolvimento econômico leva a um progresso da expectativa de vida estatisticamente significante. Igualmente importante, a mudança nas intercepções que vão de 1962 a 1997 é positiva e estatisticamente significante ao nível de 0,1%. Isto é, o deslocamento ascendente da curva de expectativa de vida entre 1962 e 1997 (que pode ser atribuído ao desenvolvimento tecnológico no período) é estatisticamente significante.
[42] Goklany, Economic Growth and the State of Humanity, p.7, 9.
[43] Como no Gráfico 1, as duas curvas de mortalidade infantil baseiam-se em regressões log-log usando dados do Banco Mundial, World Development Indicators 2001 (Washington: World Bank, 2001). As inclinações de cada uma dessas linhas de regressão são estatisticamente significantes no nível de 0,1%. Mais importante é que a mudança (variação) no eixo log entre 1962 e 1997 é também estatisticamente significante para esse par. Ver Goklany, Economic Growth and the State of Humanity, p. 13-34.
[44] Ibid.
[45] Paul, Ehrlich, The Population Bomb (Nova York: Ballantine Books, 1968).
[46] W. Paddock e P. Paddock, Famine 1975! America’s Decision: Who Will Survive? (Boston: Little, Brown, 1967).
[47] Baseado em FAOSTAT Database, www.apps.fao.org, de Indur M. Goklany, “Agricultural Technology and the Precautionary Principle”, in Environmental Policy and Agriculture: Conflicts, Prospects, and Implications, ed. Roger Meiners e Bruce Yandle (Lanham, Md.: Rowman e Littlefield, forthcoming 2002).
[48] Ibid.
[49] Ibid.
[50] UN Food and Agricultural Organization, “Assessment of Feasible Progress”, in Food Security Technical Background Documents 12-15 (Roma: FAO, 1996), vol.3.
[51] UN Food and Agricultural Organization, The State of Agriculture 1996 (Roma: FAO, 1996); e UN Food and Agricultural Organization, The State of Food Insecurity in the World 2001, www.fao.org/docrep/003/y1500e/y1500e00.htm.
[52] Ibid.
[53] Goklany, “Saving Habitat and Conserving Biodiversity”; Goklany, “The Future of the Industrial System”; e Goklany, “Potential Consequences of Increasing Atmospheric CO2 Concentration”.
[54] Ibid.
[55] Ibid.
[56] FAOSTAT Database 2001, www.apps.fao.org.
[57] Goklany, “Strategies to Enhance Adaptability”.
[58] K. Hill, “The Decline in Childhood Mortality”, in The State of Humanity, p. 37-50.
[59] World Resources Institute, World Resources 1998-1999.
[60] Goklany, Economic Growth and the State of Humanity, p.14.
[61] Goklany, “The Future of the Industrial System”.
[62] Os agrupamentos de países desse gráfico e dos dois seguintes foram extraídos das classificações usadas no World Bank, World Development Indicators 2001.
[63] Dados econômicos de Angus Maddison, The World Economy: A Millenial Perspective (Paris: OECD, 2001); dados sobre expectativa de vida (EV) e mortalidade infantil (MI) para os Estado Unidos em 1913 são do U.S.Bureau of the Census, Historical Statistics of the United States: Colonial Times to 1970 (Washington: Government Printing Office, 1975); os dados de EV e MI para 1998 são do World Bank, World Development Indicators 2001.
[64] Samuel H. Preston, “Human Mortality throughout History and Prehistory”, in The State of Humanity, p.30-36.
[65] Goklany, Economic Growth and the State of Humanity, p. 7-15.
[66] World Resources Institute, World Resources 2000-2001 (Washington: World Resources Institute, 2000).
[67] World Bank, World Development Indicators 2001.
[68] Ibid.
[69] Por exemplo, em 1998 a Zâmbia perdeu mais de duas vezes o número de anos ajustados por incapacidade devido à malária em relação à AIDS. Informação pessoal de Richard Tren, 14 de maio de 2002, baseada em estatísticas do Departamento Central de Saúde da Zâmbia. A taxa de mortalidade por malária na África Subsaariana, que estava em 184 por 100.000 em 1950, havia caído para 107 em 1970 e continuou caindo até a década de 1980. Mas em 1997 havia aumentado para 165; ao contrário, no resto do mundo caiu de 39 por 100.000 em 1950 para 1 por 100.000 em 1997. World Health Organization, World Health Report 1999, p. 50.
[70] Goklany, The Precautionary Principle, p. 9-10 and references therein.
[71] Rachel Carson, Silent Spring (Cambridge, Mass.: Haoughton Mifflin, 1962).
[72] Roger N. Bate, “How Precaution Kills: The Demise of DDT and the Resurgence of Malaria”, in Perilous Precaution: The Folly of Disregarding Science, ed. Roger N. Bate (Cambridge: European Science and Environment Forum, 2002), p. 70-82; Wallace Chuma, “A Renewed Role Sought for DDT in Malaria War”, Pittsburgh Post Gazette, 21 de julho de 2002, www.post-gazette.com/healthscience/20020721malaria3.asp; e Goklany, The Precautionary Principle, p. 13-18.
[73] Bate; Chuma; e Goklany, The Precautionary Principle, p. 13-18.
[74] World Health Organization, World Health Report 1999, p.50. Não está claro se a taxa de mortalidade foi ajustada para um padrão de distribuição da população. Entretanto, não é provável que a mudança dessa distribuição tenha modificado muito a taxa de mortalidade.
[75] Ibid. Só esse aumento da taxa de mortalidade resulta num aumento de mais de 100.000 mortes adicionais por malária em 1997.
[76] World Bank, World Development Indicators 2002.
[77] World Bank, World Development Indicators 2001.
[78] “Emerging-Market Indicators: Net Official Aid”, The Economist, março 23-30, 2002, p.102
[79] Amartya Sen, “A World of Extremes: Ten Theses on Globalization”, Los Angeles Times, 17 de julho de 2001, www.globalpolicy.org/globaliz/define/0717amrt.htm.
[80] Deepak Lal advertiu contra a imposição dos valores dos países ricos sobre os países pobres. “Se o Ocidente atar a sua cruzada moral próxima demais ao emergente processo de globalização”, escreve ele, “existe o perigo de que haverá também um recuo contra o processo de globalização”. Deepak Lal, “The Challenge of Globalization: There Is No Third Way”, in Global Fortune: The Stumble and Rise of World Capitalism, ed. Ian Vásquez (Washington: Cato Institute, 2000), p.40.

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